UniVerso de Mulheres 06 -Três poemas de Jamille Anahata, por Valeska Brinkmann
Três poemas de Jamille Anahata, por Valeska Brinkman
não sou só
meus joelhos ralados
ou a cicatriz na minha barriga
meus joelhos ralados
ou a cicatriz na minha barriga
sou também canga estendida
em dias ensolarados,
sorriso bordô, dança e cantiga
em dias ensolarados,
sorriso bordô, dança e cantiga
***
toda vez que um de nós sem aldeia
fala
se reconhece no espelho
tem coragem de usar a palavra-tabu
tem coragem de usar a palavra-tabu
sinto o fortalecimento
na pele no peito no sangue
na pele no peito no sangue
o plano deles era nos arrancar
nos engolir e integrar
nos engolir e integrar
apagar nossa memória
mas nenhum vínculo é
tão forte quanto o dos encantados
tão forte quanto o dos encantados
a ancestralidade
nos guia de volta
nos guia de volta
***
teu beijo me acordou de um sonho
as estrelas eram nossas cúmplices
e teus cabelos com cheiro de carambola
me traziam de volta sempre que eu ia longe
me traziam de volta sempre que eu ia longe
sol e lua desceram do céu e
nos observaram dançar e se embrenhar
entre infinitas raízes retorcidas
nos observaram dançar e se embrenhar
entre infinitas raízes retorcidas
teu beijo me acordou e ainda era sonho
Jamille Anahata é manauara, ativista indígena, poeta e pesquisadora de Relações Raciais.
Tanto sua poesia, como toda sua escrita são processos de experimentação,
cura ancestral e vislumbre de mundos sem o intermédio do capitalismo
nas nossas experiências, na qual, acima de tudo, está a crença no poder
dos afetos e dos amores.
dos afetos e dos amores.
Também conduz o canal "Experimentações Poéticas" no youtube onde
todo domingo posta uma videopoesia.
Amei os poemas!
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