Crônica | O ódio que não se aprende - Chris Herrmann



Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 14

O ódio que não se aprende

Chris Herrmann



Minha filha, quando era bem pequena, viu pela primeira vez aqui na Alemanha uma criança negra. Estávamos no parquinho. Segue o diálogo que foi mais ou menos assim:

_ mãe, aquela menina tem uma cor diferente. 
_ filha, o mundo está cheio de pessoas diferentes, inclusive na cor da pele.
_ ela está olhando pra mim.
_ deve ser porque você olhou pra ela.
_ é mesmo. 
_ não quer ir lá brincar com ela?

Ela foi correndo e brincaram e ficaram amiguinhas. Ficamos amigos da família também. Nunca mais minha filha fez qualquer menção sobre alguém lhe parecer diferente. Ensinei-a desde cedo a não ter preconceitos e a respeitar as diferenças. Meu filho, idem. Quando ele era criança, inclusive, enfrentou problemas na escola por causa de uns meninos mal educados, por defender uma menina turca de religião muçulmana que estava sofrendo bullying. Ele não aceitou ser mais um da “boiada“ a humilhá-la. E sofreu bullying por causa disso. Depois de algum tempo superou, mas nunca se arrependeu de tê-la defendido e disse que faria de novo. Tenho muito orgulho dos meus filhos. 



Precisamos pensar no Brasil como um grande pátio escolar. Que valores estamos passando para os nossos filhos e que eles depois passarão para os nossos netos? Como conviverão com as diferenças na vida pessoal, no campo profissional e até em posições de grande responsabilidade? Como conviverão com as próprias diferenças e limitações? Como enfrentarão situações que exigem tolerância se nunca aprenderam a tolerar, a ter humildade e a respeitar aquele que seja ou pense diferente? Como valorizar suas vitórias e aprender com seus fracassos sem odiar? Que “heróis“ os ensinamos a confiar nosso futuro, a tomar como modelo de honestidade e patriotismo, e que amanhã eles ensinarão aos nossos netos?

Comentários

  1. Esta educação que você deu a suas "crianças" (pela foto percebo que tanto sua menina quanto seu menino já ultrapassaram você em estatura) tem um traço essencial para se valorizar. De fato, o necessário combate aos preconceitos começa muito bem assim, em casa e na infância. É de se esperar que esse seu casalzinho transmita estes elevados valores à própria respectiva prole que venham a ter.
    Coisa boa até de imaginar, esse futuro com cada vez mais pessoas sem preconceitos, e que bom pra sua consciência essa noção de já ter transmitido e disponibilizado em vida a seus descendentes de primeira geração esta valiosa herança.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Emocionada com a sua leitura atenta e seu comentário delicado e sensato, João. Que as próximas gerações consigam extinguir de vez o preconceito da face da Terra, principalmente o racismo. Obrigada! 😊

      Excluir

Postar um comentário

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

Cinco poemas de Catita | "Minha árvore é baobá rainha da savana"

A vendedora de balas - Conto

DUAS CRÔNICAS E CINCO POEMAS DE VIOLANTE SARAMAGO MATOS | dos livros "DE MEMÓRIAS NOS FAZEMOS " e "CONVERSAS DE FIM DE RUA"

A POESIA PULSANTE DE LIANA TIMM | PROJETO 8M

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M