Cinco poemas de Rosana Piccolo | Uma poética de movimento e paralisação
Tomie Ohtake |
Cinco poemas de Rosana Piccolo
Uma poética de bronze e movimento tremulante
Baile
ninguém sabe o que passa
pelo coração das estátuas
ninguém ouve o leão
com asas de argila, poetas
cinzelados a chicote e névoa
há grous garças adágios
enraizados no bronze
ninguém dança
nem camisas ao vento
nem folhas de agosto
nem robôs
nem joãos bobos
nem em filmes
nem por sonho
nem por lei, ninguém
no chafariz o cavalo baba
mil saiotes refrescantes
ninguém usa
Sábado à tarde
toldos
odor de bacon nos
bares
pisoteada serpente
do Largo
por músicos e
malhas
garis alaranjados
panfletos se
debulham
como pétalas,
túneis
pileque de pivetes
e as gárgulas que
golfam grifes de verão
na úmida gravura
de meu rosto
Tomie Ohtake |
Praça do Japão*
vestida de noiva, ela vinha adiante
pisava a grama gelada
áspera bota calçava
vestida de noiva
contrária à lágrima escura dos pombos
vestida de noiva
buscava os degraus delgados da praça
e deixava pelos cantos gavetas de olhares
e erguia tantos leques de folha seca, porque abria
aleias
e arrastava a gente das lentes e das revistas
quando voltou-se, no ponto mais alto, majestática
o olhar vazio de vitrine, coroa de cristais
coruscando ao sol
a alma saiu pela boca como a saliva dos
bichos-da-seda
subiu,
subiu, sumiu
vestida de noiva, ali ficou para sempre
Passeio noturno
meu coração
em um par de sapatos
tecidos
em fuga
tremulam
aos cílios do vento
lebres
do inverno
apagam
cachimbos
fervura
vencida na banca
(ácida se fecha)
arde como a fome
o
estômago do michê
Ascensão
medusas deixam o mar
e o grito
e o risco do relâmpago
no olhar horripilante
a boca, caverna de clichês
definitiva gaivota nos olhos
pedestres
xampu para cachos rebeldes
medusas deixam o mar
Tomie Ohtake |
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