Resenha do livro de poesia ALAS, PÉTALAS E LABAREDAS, de Priscila Prado


(Capa do livro ALAS, PÉTALAS & LABAREDAS)

A POESIA VOA, FLORESCE E TAMBÉM ARDE EM 'ALAS, PÉTALAS & LABAREDAS'

por Nic Cardeal 

 No livro intitulado ALAS, PÉTALAS & LABAREDAS (Curitiba: Marianas Edições,  2018), PRISCILA PRADO faz da poesia um outro modo de capturar a essência das 'paisagens' absorvidas por seu atento olhar diante do mundo. Paisagens de dentro e de fora, aquelas que não alcançamos de imediato ao simplesmente observar o passar ligeiro da vida. Nesse dizer poético sobre o viver no mundo, Priscila mais uma vez mostra como é amiga íntima da palavra, da palavra poética  - quase profética. Nada aqui é por descuido, mesmo aqueles momentos captados ao acaso no decorrer do tempo que passa e deixa rastros - rastros esses recuperados por Priscila ao costurar as margens - e o centro - do que quer ser dito e ouvido em versos. A poeta movimenta a palavra com malabarismos precisos - e preciosos - como se fosse dela própria a mão fazedora dos gestos imaginários do pensamento, gestos que se deslocam sorrateiramente, perfeitamente em cada verso, bailarinos da forma em palavras bem ditas. É possível vislumbrar a dança que Priscila faz acontecer entre a palavra e a poética da palavra. Porque nada é disperso, ainda que haja vento - e asas, e música - na poesia de Priscila. Como bem descreve Isabel Jasinski na apresentação da obra, "(...) a poesia, nesse livro, não se separa da vida, mas vive nela. É a chance de olhar de novo sobre as coisas, um cenário, uma fotografia, uma lembrança (...)" (2018, p. 8).

A autora navega por diversas 'águas' nesse livro, demonstrando que a poesia é um bom 'navio' com vida própria, que viaja mar afora, infinito adentro, sem medo de naufrágios, ainda que, tanto dentro quanto fora, os fundos sejam profundos, sorrateiros, densos. Há que se fazer esses mergulhos na sua poesia, já que a sua palavra traz à tona a realidade, a natureza, o humano, e também o sobrehumano. Na realidade, Priscila enxerga o volume e a forma, o peso e a pluma, o voo e o pássaro, a nuvem e a gota que a atravessa. Vê a pedra, o sal, o mar. Capta o disfarce da cidade que muda. Enxerga em fotografias as suas 'paisagens antigas', as memórias, a transformação de si mesma: "(...) há em mim/ vasta pradaria ensolarada/ colinas ao longe/ trilhas de terra entremeadas de pedra/ deslizam pelos matizes de verde/ tropeçando em porteiras e cercas esfarrapadas/ (...) há em mim/ o mar inteiro/ - e um olho d'água" (2018, p. 45). Pode até ser o cão que revolve o lixo o protagonista da poética em Priscila. Pode também ser o próprio ato de escrever, a palavra, o som da palavra, o tentar a palavra, um faz de conta da palavra, um dedo de prosa, um silêncio morador da palavra. Porque na sua poesia todas as coisas (e não-coisas) são bem-vindas na morada da palavra. Eis que ela encontra espaços longínquos para trazer à tona a poesia escondida entre horizontes, águas, estrelas, contornando os mistérios e simplicidades da natureza. Traz o humano para explicar a palavra, ou que a palavra nos traga a chave do humano e mais que humano em nós: "o ser e o agir/ em conformidade:/ agir sendo/ eterno/ - só assim/ o homem é deus:/ sendo comezinho." (2018, p. 51).

Muitas vezes 'quase hai-kais' sustentam os voos da 'poesia-quase asa' em Priscila, como se as palavras quisessem escapar ligeiras do mundo das formas, em busca do que as sustenta no etéreo do olhar. Mesmo quando  "o mensageiro dos ventos está calado (...)" (2018, p. 39), o verbo sempre terá como falar, gritar ou cantar na lavra desta incrível artista, porque esta é a senha da poeta:

"a palavra mais óbvia
é a que se apresenta
para transpor o abismo-istmo
entre o que há para dizer
e o que foi dito."
(2018, p. 93).

Como bem conclui Isabel Jasinski na apresentação do livro, "(...) esse é o ritmo das palavras que tecem paisagens e cerzem combinações sonoras nessa obra, expressando consciência do tempo que passou, memória e afeto, reconhecendo aquilo que mesmo esquecido faz parte do eu, identificando-se no presente do gesto poético." (2018, p. 10). Porque em Priscila as 'alas, pétalas e labaredas' indicam caminhos múltiplos que convergem em um único - o  seu olhar de decifrar e transformar o mundo pela poesia - porque 'a alma (da autora) escorre pelos poros' (2018, p. 136), parindo poesia em forma de vida.


(Foto: arquivo pessoal)

PRISCILA PRADO é escritora e advogada. Finalista do Prêmio Jabuti 2013 com o livro interativo de poesia ilustrada PREGUIÇA, CORAGEM E OUTROS BICHOS (edição própria, 2012). 

Autora também de A QUALQUER MOMENTO AGORA (poemas, Edição da autora: Curitiba,  2005); NO OLHO DO PARADOXO (poemas, Editora Insight: Curitiba, 2015) e ENCONTROS DESCONCERTANTES (poemas e fotos, Editora Insight: Curitiba, 2018). Atuante em coletivos de incentivo e divulgação de literatura infanto-juvenil e de autoria de mulheres. www.priscilaprado.com

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