Tertúlia Virtual | uma ideia genial de Marta Cortezão
| foto: arquivo pessoal |
Tertúlias Virtuais
Poesia no paraíso de mulheres - troca de poemas, interpretações e afetos
por Chris Herrmann
Segundo a Wikipedia, a tertúlia (do castelhano tertulia) é, na sua essência, uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos, especialmente os literários. E foi o que a amazônida residente em Segóvia, Espanha, se propôs ao criar a TERTÚLIA VIRTUAL, com mulheres poetas que se reúnem para ler e comentar poemas umas das outras. É essa troca de afetos e poesia que torna o encontro ainda mais belo que seu próprio nome, superando todas as expectativas.
Tive o privilégio de participar da VII Tertúlia Virtual, e confesso que me emocionei muito, tal foi a beleza e a poesia impregnadas em cada leitura, em cada momento, em cada rosto e em cada palavra de todas as participantes. Marta Cortezão é uma excelente anfitriã e mediadora e nos deixou muito à vontade. Participaram, além de mim, Roberta Gasparotto, Janete Manacá e Mell Renault.
O que me chamou muito a atenção nesse encontro é o carinho com que a Marta recebe suas convidadas. Com sua voz mansa e doce, o encontro já se inicia em uma atmosfera afetuosa. Quando caminhamos para ler as biografias e depois os poemas umas das outras e nossas interpretações, o ambiente poético e emocionante já está formado. Marta é uma perfeita anfitriã e com ela a poesia é a festa!
Leiam o belíssimo texto de abertura, criado e lido pela nossa anfitriã Marta na VII Tertúlia Virtual de 1/10/220:
“VII TERTÚLIA VIRTUAL/ MARTA CORTEZAO - 02/10/2020
VII TERTÚLIA VIRTUAL: FEMINÁRIO POÉTICO & INTIMISMOS
O Canto Poético da Sétima Tertúlia Virtual
A VII Tertúlia Virtual vem consolidar este canto, que já nasceu harmônico, com a I Tertúlia Virtual, nas vozes das escritoras e poetas Sabrina Dalbelo, Rita Queiroz, Sandra Godinho e Myriam Scotti, e que, depois de ecoar por tantas vozes femininas, se funde a este sétimo canto-nota tertuliano, na companhia de Mell Renault, Janete Manacá, Roberta Gasparotto e Chris Herrmann.
A tertúlia de hoje nos revelará uma poética avassaladora, que ovula intimismos, que mergulha em águas labirínticas da vida nascente que escorre no pranto, porque, como diz Mell Renault, na poesia “nascente”, com sua voz de Esmeraldas: “é preciso/ chover/ deixar-se/ banhar/ da água sal/ de que é feita/ a lágrima (...) “é preciso/ chover/ para se abençoar.” Portanto, chovamos, ouvindo este canto que ecoa poesia-resistência!
Destas frações poéticas que bebo, com ânsia, na fonte da VII Tertúlia Virtual, encontro com minhas mil faces poéticas e multiplico-me, me derivo, à deriva de uma ancestralidade que cheira à fêmea, à “Mãe Terra”, nossa “Senhora Gaia”, mulheres sagradas, místicas, com seu patuá de sangue nas mãos, pleno de profecias poéticas. Lá das bandas de Mato Grosso, nos versos de Janete Manacá, se ouve o canto aguerrido das benzedeiras, lavadeiras, parteiras que “preparam caminhos (...) tecendo poemas de amor em coloridos retalhos” (“Antes de mim”, no livro “Outono para além da janela”). São “mulheres estrelas das noites de escuridão” (“Poesias Aguerridas”, no livro “Extasiada de Infinitos”), “(...) que dançam/ a música da floresta/ e deixam a mata em festa” e “que tecem a trama do tempo” (“Mulheres Sagradas”, no livro “A Sabedoria dos Caminhos”).
Ancestralidade presente também no canto de “um pássaro noturno” (“Andarilha”, no livro “Extasiada de Infinitos”), talvez aquele que Renault ouviu, lá por Minas Gerais, e tentou compreender a sutileza presente nesta particular sinfonia que ecoava “do bico (deste pássaro)/ e (desejou) “pendurá-la/ num/ varal/ para enfeitar/ o sábado/ que/ (já) se inicia(ava)” (“Revoada”). Ou ainda o pássaro que levou no bico aquele mesmo canto ancestral, cruzando Brasília e cantou para Roberta Gasparotto os segredos sobre a sabedoria do voo, confessando-lhe, nas entrelinhas poéticas, que quando se rejeita o voo, se rejeita, “sobretudo, a si própria” (“Pássaros”) e que é preciso atravessar “profundezas/ (nadar) oceanos (...) porque há sempre “um assustador mar aberto” com “milhares de” nós mesmas, aqueles “fósseis datados de milênios de anos atrás” (“Multidão”).
Este canto poético, em silêncios colossais, também cruzou oceanos, alcançou Alemanha e aconchegou-se “n’olhos de nuvens”, de Chris Herrmann, que, em acalanto, domou suas “paisagens cinzas/ acostumadas/ às tempestades/ e aos ventos frios/ da solidão” (“O tridente”); o canto sonoro pousou “naquele ( já cansado) banco/ (e ali) coube um universo/ de sonhos”(“O banco”) e daquela paisagem, outrora cinza, jorraram “palavras/ inspiradas nas flores das pedras/ colhidas dos caracteres da alma/ impressas nas folhas do tempo” (“Epitáfio”)... no tempo das tertúlias virtuais, porém poéticas.
Marta Cortezão.“
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Hoje, a poeta Mell Renault fez um poema dulcíssimo (como ela) em homenagem a este encontro mágico que tivemos ontem. Leiam:
“Tertúlia Virtual VII
Embaladas
pela doçura
e perfume
de tantas flores
promovemos
a arte das palavras
e do encontro humano,
dançamos para a lua
dançamos para o sol
cantamos a vida
celebramos a poesia!
Que venham mais
Bárbaras
mulheres sagradas
caracóis e unicórnios
que venham mais
mãos dadas
sorrisos largos
passos sincronizados
e abraços que acolhem
e abençoam.
Janete, Roberta
Chris, Marta
Tertúlia
do mais fino tear
águas, amores
que viva a arte da união
e do bem querer!
Palmas,
muitas palmas
magnólias
rosas
lírios!
Chuva de bençãos, minhas irmãs.
- Que a poesia nos fortaleça hoje e sempre!
Mell Renault“
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Deixo também meu carinho em forma desses Cards que já foram publicados no Instagram da Revista Ser MulherArte (@sermulherarte):
Aproveito para agradecer à Marta o convite para participar da VII Tertúlia Virtual que aconteceu em 1/19/2020 e me honrou e emocionou muito. Obrigada também as participantes queridas, poetas talentosas que tornaram o evento inesquecível!
Mas a escritora Marta Cortezão não se dedica apenas ao projeto belíssimo das Tertúlias Virtuais, ela é uma agitadora cultural muito versátil. Saibam mais lendo a sua biografia.
Marta Cortezão é graduada em Letras pela UFJF-MG, pós-graduada em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela FEC-RO e, atualmente, mestranda em “Mundo Clásico y su Proyección en la Cultura Oriental” (UNED/ES). Nasceu em Tefé/AM, mas mora em Segovia/ES desde 2012. É poeta, escritora, tradutora de Português e Espanhol/ Espanhol e Português. Trabalhou como professora, durante vários anos, na SEDUC/AM (Tefé-Manaus), na Universidade do Estado do Amazonas (UEA/CEST/TEFÉ) de 2002 a 2010 e, em 2011, na Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Manaus/AM). É membro da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos – ABEPPA e da Academia de Letras do Brasil – Amazonas – ALB/AM. Desenvolve projetos de articulação cultural e literária, como o “Bate-papo” que acontece todas as quartas-feiras (via Instagram, no perfil @mcortezao) com convidados/as das mais diversas áreas profissionais e as "Tertúlias Virtuais" (via seu perfil Marta Cortezao, no Facebook) que têm viajado pelo mundo espalhando a Poética Feminina. Recentemente, finalizou o projeto "Literatura no Amazonas", via Facebook, no qual, em parceria com a Dra. em Poética e Hemenêutica, Lourdes Louro, realizou em 15 episódios, a divulgação de obras e autores da Literatura Brasileira produzida no Amazonas. Tem obras publicadas em algumas antologias, tanto nacionais como internacionais e alguns artigos científicos publicados pela "Revista Decifrar"/ UFAM. Faz parte do grupo “Mulherio das Letras União Europa”, do “Mulherio das Letras Portugal” e, recentemente, criou o “Mulherio das Letras Espanha”. Participou do “Festival Cultural Brazil Meets Gmünd”, em 2018 (Áustria), do evento Literário “Wien Seminar”, em 2019 (Viena/ Áustria). Livros escritos: “Banzeiro manso” (2017) e “Amazonidades Poéticas – Cultura e Identidade”, trovas que se encontra no prelo.
Marta está no Facebook (Marta Cortezao) e também no Instagram: @mcortezao
Chris Herrmann, muito obrigada pelas gentis palavras e pelo carinho com os quais você se refere ao Projeto das Tertúlias Virtuais e a mim. Todas vocês que passaram por este pequeno projeto, mas de grandes poéticas, só têm contribuido para que ele cada vez mais se fortaleça e possa ir ganhando o mundo. A Poesia tão musical e fraterna de Mell Renault coroa nossa VII Tertúlia Virtual com plumas e paetês poéticos. Muito obrigada mesmo a você por abrir o espaço na "Revista Ser MulherArte". É uma alegria imensa poder estar aqui. Gratidão me define.
ResponderExcluirQuerida Marta, seu projeto Tertúlias Virtuais é simplesmente maravilhoso e o encontro com você, a Roberta, Mell e Janete teve algo mágico que me arrebatou. Era como se pudéssemos tocar a poesia, ao mesmo tempo que ela nos tocava. Foi lindo demais e inesquecível. Eu te agradeço muito o convite. Agradeço também as meninas. A arte é agregadora e aproxima as pessoas certas na hora certa. Estava escrito nas galáxias! Um abraço carinhoso!
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