Casamentos concretos e reais | Marilia Kubota

 

MOSAICO Coluna 23    Crônica
CASAMENTOS CONCRETOS E REAIS
por Marília Kubota

Na semana que passou, um site de Curitiba publicou a notícia (e já retirou do ar) de um casamento que seria realizado na Ilha do Mel, com 300 convidados. O evento seria celebrado na ascensão do covid-19 no Paraná. Esta celebração lembrou um outro casamento, realizado na Bahia, em que a cantora Preta Gil se contaminou, logo no início da pandemia no Brasil.
Se os ricos se contaminam, não há problemas. Dispõem dos melhores tratamentos em hospitais privados. O problema é o rastro de contaminação que deixam no local. Sem UTI e sem equipamentos adequados, se contaminados, os pescadores e suas famílias teriam que ser transportados às pressas para hospitais de Paranaguá.
Para os noivos, só há o momento em que se equiparão ao Príncipe Harry e Meghan Markle, ou, para uma comparação com cor local, à Maria Victória Borgheti Barros e Diego da Silva Campos (quem?). Estes, em julho de 2017, para celebrar o sonho de sua vida descaracterizaram a entrada de um prédio do patrimônio público no centro histórico de Curitiba. Para refutar a ousadia dos neoaristocratas da política - Maria Victória é filha de dois políticos do Paraná, a ex-governadora Cida Borghetti e o ex- ministro da Saúde Ricardo Barros, a população curitibana preparou uma recepção inesquecível para os noivos. Na chegada triunfal, atiraram ovos na noiva e nos convidados.
Sempre me intrigou, por que, para a elite e a classe média, uma cerimônia de casamento tem que ter pompa e circunstância. Nunca casei, embora tenha tido um companheiro por sete anos, o que equivaleu a um casamento, sem cerimônia civil ou religiosa. Minha mãe preparou um enxoval, guardando jogos de toalhas de mesa rendados. Como nunca fui prendada, ela se frustrou duplamente. Por eu não ter casado, nem montado uma casa em que coubesse o jogo. Acabou usando as toalhas, para não desperdiçá-las.
Assisti a vários casamentos celebrados em diversos lugares, em pequenas igrejas, em chácaras, em restaurantes, em casa, com ritos alternativos, apenas no cartório. Jamais fui convidada para um casamento real, a não ser o da Mavi, ao qual não fui convidada, mas fui plateia especial.
Ainda na semana passada, houve a notícia da inscrição para casamentos coletivos virtuais. Uma celebração para selar vários enlaces entre noivos sem condições de pagar por uma cerimônia. Talvez, se a grande imprensa desse destaque a estes casamentos, como dá a casamentos considerados reais, exterminaria com as demonstrações da pompa aristocrática.
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