Machismo estrutural | Quando a imprensa também exclui as mulheres
EDITORIAL
O machismo na Imprensa
Chris Herrmann
Editora
Não é novidade alguma, por mais que se negue, que ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, que privilegia os homens nas mais diversas situações de vida. Claro que há séculos já foi ainda pior e muito mais injusto do que nos dias de hoje. Essa diminuição de injustiças contra a mulher só foi possível depois de muita luta, sacrifício e sangue derramado. Há mulheres que se dão satisfeitas pela situação atual, seja por falta de informação, seja por terem tido uma educação machista, ou por falta de oportunidade. Mas também há mulheres que sabem valorizar o que as mulheres do passado sofreram para que hoje possamos ter mais direitos e visibilidade que antes.
E é aí que o feminismo entra, não como um movimento que visa “humilhar” os homens, ou para ser o contrário do machismo. Não. O feminismo não se baseia nisso. O feminismo apenas luta para que haja igualdade de direitos. É muito triste que em pleno Século XXI ainda haja necessidade de se explicar as razões e os porquês da existência do movimento feminista e, pior, que o machismo ainda perdure como se fosse a coisa mais natural do mundo. É o chamado “machismo estrutural”, assim como o racismo estrutural, que está enraizado e por isso mesmo, precisa ser combatido e protestado em todos os níveis sociais e políticos.
A exemplo disso, temos uma imprensa que, em grande parte, tem um comportamento machista, privilegiando e dando visibilidade apenas aos homens. Algumas pessoas dirão, quiçá mulheres, que não é verdade. Mas acontece com enorme frequência vermos manchetes, como essa abaixo:
O que será que está errado nessa manchete? Abaixo, uma nota da administração do Mulherio das Letras na data de hoje sobre o tema:
“Como a grande mídia trata a divulgação de literatura de autoria feminina ? Nesta manchete dos finalistas do Prêmio Jabuti pelo jornal Folha de S.Paulo, só aparecem nomes de homens. No subtítulo ainda apareceu o nome de Djamila, por ser colunista do jornal. A grande mídia continua sendo misógina.”
Alguém dirá: “ora, mas não contém inverdades”. Claro que não é fake news, mas é tão lamentável quanto. Porque a manchete é o chamariz para que pessoas se interessem em ler uma matéria. Ou se não se interessarem, ficará gravado na memória como o resumo de seu conteúdo. A manchete citou Chico Buarque, pela fama, e outros homens pelo gênero. Por que não citou mulheres finalistas, sendo que este ano elas foram muitas, inclusive várias pertencentes ao maior movimento feminista literário do Brasil? O Mulherio das Letras está inclusive se espalhando pelo mundo, com milhares de participantes.
Mas esta nem deveria ser a razão principal da imprensa incluir mulheres em manchetes e subtítulos como esses. A razão deveria ser o tratamento respeitoso, justo e igualitário para TODOS os gêneros. Isto é o que, infelizmente, ainda falta na grande mídia, onde o machismo estrutural também se faz presente. Enquanto ficarmos de braços cruzados e aceitar todas essas injustiças contra as mulheres sem protestar, nada irá mudar. Não podemos nos calar. Precisamos falar, apontar e colocar o dedo na ferida sim. E gritar também, quando for necessário. Porque nós, mulheres, sempre fomos e continuaremos a ser a mudança.
Simone de Beauvoir, em seu livro "Segundo Sexo", na primeira edição, em 1949, assim refletia: "toda história das mulheres foi feita pelos homens (...) O próprio feminismo nunca foi um movimento autônomo: foi, em parte, um instrumento nas mãos dos políticos e, em parte, um epifenômeno refletindo um drama social profundo." É triste ler este tipo de matéria e perceber que o caminho é longo e duro, mas também me alegra constatar que estamos no caminho certo. Sinto-me feliz de caminhar ao lado de mulheres super comprometidas com a causa feminista que bem deveria ser de todos, sem distinção. Parabéns pelas reflexões, Chris Herrmann!
ResponderExcluirAgradeço a lucidez do seu comentário, Marta. Temos que dizer o que precisa ser dito e não colocar para debaixo do tapete. Um abraço.
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