Tua ikebana tem flor de banana | Marilia Kubota
MOSAICO Coluna 24 – Crônica
TUA IKEBANA TEM FLOR DE BANANA
por Marília Kubota
Escrevi, há tempos, um poema que entrelaçava ikebana e flor-de-banana. Na época, não sabia que ikebanas poderiam ser arranjadas com flores de banana. Quem me ensinou isto foi a artista e professora Élia Kitamura. Ouvi o nome dela como uma famosa mestra em Curitiba durante anos. Eu a entrevistei por telefone uma vez, para que explicasse sobre o estilo de sua escola, a Ohara Ryu.
Élia explicou que no Japão há mais de 400 escolas/estilos de ikebana. No Brasil, só conhecemos quatro. Para a Ohara Ryu, as flores e plantas usadas no arranjo devem ser o mais naturais possível, evitando amarrações de galhos e outros contorcionismos. Também se deve usar flores e plantas da região em que o aluno vive. A mestra aprendeu sua arte no Japão, com Teiko Itoh. Quando Teika veio ao Brasil ficou fascinada com a espécie nativa brasileira esponja de ouro. Ciou muitas composições com a flor.
Só fui conhecera Élia pessoalmente quando estava namorando aquele que seria meu companheiro. Frequentavam o mesmo círculo social. Logo que nos vimos pela primeira vez, Élia se mostrou espontânea e carinhosa.
Apesar de minha inabilidade em artes manuais, cheguei a fazer aulas com ela, por causa de seu carisma. Consegui, graças à sua paciência e bom humor, criar alguns arranjos. Foi através dela, também, que reencontrei uma ex-professora do curso de Jornalismo, a socióloga Eliana Heeman.
Eu estava me sentindo deprimida com o luto de meu companheiro. Élia quis me ajudar, abrindo o atelier para eu orientar oficinas de haicai. Divulgou a oficina entre seus alunos. Nunca esquecerei este gesto .
Por várias vezes, depois, nos encontramos. Em eventos do Nikkei Curitiba, o clube para o qual trabalhei como assessora de imprensa. Élia era convidada por ter ensinado a arte do arranjo floral a quase todas as mulheres influentes da cidade. Comemoramos um Natal juntas, passeamos na serra de Santa Catarina. Para ela, o importante era celebrar a vida com os amigos. Gostava de beber cervejinha e tomar banho de rio.
Nos últimos anos, por conta de confusões com relacionamentos próximos a nós, nos afastamos. Semana passada, Eliana anunciou que Élia havia partido. Só consegui lembrar de sua doçura, disfarçada por um dissimulado mau-humor. A brabeza dela a protegia de olhos ávidos pela beleza de espírito, aquela a que só os chegados desfrutaram.
tudo passa
celebre a breve
floração
(Marilia Kubota)
*
Não se esqueça:
caminhamos pelo inferno
contemplando flores
(Bashô)
*
Uma abelha parte
do fundo do cálice de uma peônia:
isso é que é uma despedida!
(Bashô)
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