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Coluna 13 |
Retrospectiva de 2020
Desde agosto de 2020, publiquei 12 resenhas nesta coluna. Novembro e dezembro foram meses meio parados em virtude da intensificação das minhas atividades na universidade. Mas agora faço uma retrospectiva, indicando mais uma vez os links para as leituras e entrevistas no @sermulherartelive (quando as houve). Nunca é demais recomendar as obras de boas autoras. Apoie a literatura escrita por mulheres, compre e leia seus livros. Em 2021, teremos mais resenhas e entrevistas em "Divina Leitura".
Uma leitura de "Ebulição Interna" de Márcia Machado
Os cinquenta e um poemas que compõem Ebulição interna, livro de estreia de Márcia Machado, assumem a forma de verdadeiros monólogos interiores escritos em versos. Uma voz poética extremamente reflexiva se debate com questões fundamentais da experiência humana e da contemporaneidade. Em sua maior parte, são composições relativamente longas de versos curtos em que se destacam os pontos de interrogação, sinal de um eu que se questiona constantemente. [...]
Mais sobre Luciene Carvalho
Ao idealizar este texto, eu tinha o intuito de encontrar uma cartografia feminina para Cuiabá na literatura. Queria saber como a cidade teria sido desenhada nas narrativas de suas autoras. Que espécie de mapa as representações de mulheres traçariam nas páginas impressas? A realização desse objetivo esbarrava no meu grande desconhecimento a respeito da produção literária de escritoras nascidas ou radicadas em Mato Grosso. No pouco tempo de pesquisa que tive, desisti de tentar esboçar um panorama ou visão geral. Na verdade, fui antes arrebatada pelas impressões de uma única autora, contidas nos microcontos do pequeno, mas significativo livro de Luciene Carvalho, Conta-gotas (2007). [...]
Celebração do devir em Luciene Carvalho: "Revista Pixé", edição especial de outubro de 2020
A edição especial da Revista Pixé de outubro de 2020 homenageia a poeta Luciene Carvalho em seus vinte e cinco anos de carreira. Como ressalta Eduardo Mahon, no editorial da revista, “trata-se de um encontro [...] com o passado ancestral que, obviamente, é negro e periférico”. Mas, sobretudo, são poemas que se constroem como “cosmo-imagens do mundo, conexão e heterogeneidade em que um ponto se conecta a outro em linhas de fugas e intensidades, consistências e fluidez”, como assinala a pesquisadora Olga Castrillon Mendes mais à frente. Essa interconexão dialoga com o rizoma de Deleuze e Guattari (1995), que ressaltam a complexa relação do ser e suas redes que o (de)formam na necessária e processual busca do devir. [...]
O mito da beleza por Naomi Wolf e suas consequências para a vida das mulheres contemporâneas
O mito da beleza (1992) de Naomi Wolf é um desses livros seminais do feminismo que deveria ser bem mais conhecido. Nele, a autora apresenta a exigência da beleza inatingível como uma reação do patriarcado aos avanços conseguidos pelas feministas, principalmente a partir dos anos 70. Desse período em diante, pelo menos as mulheres ocidentais de classe média já haviam alcançado muitos direitos em diversas esferas, como a educação superior, o mundo dos negócios e o controle da reprodução. A liberdade que esse estado de coisas acarretou para o gênero feminino era algo sem precedentes na história humana. [...]
Temas e Tramas em "Sem Açúcar" de Flávia Helena
Sem açúcar (2016) de Flávia Helena é composto por 27 contos, sendo que 19 têm protagonistas mulheres, 5 têm protagonistas homens e 2 têm personagens trans, que fazem a transição de um gênero para o outro. No conto "A cada qual o seu quinhão", o papel de protagonista parece ser dividido entre os personagens: a mãe, o filho e a filha. Entre as protagonistas mulheres, 4 são idosas ou começaram a envelhecer e 2 são crianças. Entre os homens, 2 são idosos ou envelhecem durante a narrativa e 2 são meninos. [...]
O Afrofuturismo em "Sankofia" de Lu Ain-Zaila
Sankofia (2018) de Lu Ain-Zaila é um livro afrofuturista. Em vários momentos, sua autora trabalha na intersecção entre ensaio e ficção. O próprio subtítulo não deixa dúvidas quanto a isso: Breves histórias sobre afrofuturismo. Logo no início, no local em que normalmente se encontram os prefácios, Ain-Zaila apresenta uma certa genealogia do termo, provavelmente desejosa de que suas leitoras não percam de vista o aspecto político da obra, mesmo que as ficções ali sejam altamente envolventes. [...]
O fragmento em "Orelha lavada, infância roubada" de Sandra Godinho
Lendo Orelha lavada, infância roubada (2018) de Sandra Godinho, me lembrei da seguinte frase do dramaturgo Heiner Müller: “Não acredito que uma história que tenha ‘pé e cabeça’ (a fábula no sentido clássico) ainda seja capaz de dar conta da realidade” (MÜLLER apud SARRAZAC, 2002, p. 89). É uma defesa do fragmento, que Müller entendia como a estética apropriada para a era pós-moderna, em que qualquer sensação de totalidade tornou-se inviável. [...]
As multiplicidades de "Santuário" de Maya Falks
O primeiro aspecto que me chamou a atenção ao ler Santuário (Macabéa, 2020) de Maya Falks foi a questão do gênero. A princípio, julguei se tratar de uma novela, levando em consideração a definição clássica presente em Massaud Moisés (2000): narrativa episódica, constituída por uma pluralidade de células dramáticas com diversos conflitos – ao contrário do romance, que, mesmo podendo ter vários conflitos, apresentaria uma célula dramática principal, aquela do protagonista. Além da pluralidade dramática, a novela, segundo Moisés, ainda seria caracterizada pela sequencialidade, com as células dramáticas se organizando numa sucessão, com cada episódio contendo começo, meio e fim em si mesmo, geralmente numa ordenação cronológica dos eventos ficcionais. [...]
Vitória por nocaute em "Não presta pra nada" de Marta Cocco
Não presta pra nada (2016) de Marta Helena Cocco é um livro delicioso. Em tramas bem elaboradas com os fios de diferentes falares, a autora criou tipos humanos peculiares, pessoas muito parecidas com aquelas que conhecemos na realidade. São treze contos, todos com protagonistas mulheres (a exceção é “O regresso”, em que o marido parece ter tanta relevância para o enredo quanto a mulher, talvez até um pouco mais).
Ainda que as histórias se refiram, em sua maioria, a situações tristes ou melancólicas, muitas delas são permeadas de humor. Trata-se de um humor reflexivo e dolorido, uma conscientização irônica das dores do mundo. Em relação à temática, é possível perceber três eixos principais: as relações familiares, a assimetria no relacionamento entre homens e mulheres (resultando muitas vezes em violência) e a destituição social. [...]
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O processo de morrer em "Alguém pra segurar a minha mão" de Giovana Damaceno
Não sei redigir resenha sobre livro-reportagem. Não vou fingir que sei. Não tenho nem mesmo certeza quanto ao termo correto. Será que o melhor não seria dizer “jornalismo literário”? Se estou usando conceitos ultrapassados, peço desculpas. Mas quero escrever sobre o livro de Giovana Damaceno, Alguém pra segurar a minha mão (Penalux, 2020), porque foi uma leitura que me tocou. [...]
"Made in Brasil": o romance transcultural e translígue de Sílvia Schmidt
Made in Brasil (2019) de Sílvia Schmidt é um livro intrigante. A princípio parece ser escrito dentro de um ultrarrealismo. A impressão que temos é a de que Sofia, a protagonista, poderia ser uma amiga nossa cuja história nos é contada por uma terceira pessoa, uma outra amiga talvez. A história se passa em 2003 e relata a viagem de Sofia da Inglaterra para os Estados Unidos para ajudar o irmão e a cunhada grávida. Os eventos ficcionais e a forma aparentemente despretensiosa com que são narrados se assemelham às histórias de viagem que certamente já ouvimos de várias pessoas. [...]
A força vital da madeira: uma leitura de "Coração Madeira" de Marli Walker
Coração Madeira (2020) de Marli Walker é a história de uma travessia. A protagonista, chamada de Filha do Meio e, posteriormente, de Coração Madeira, deixa o interior do Sul do país em direção ao sertão do Norte de Mato Grosso, num momento em que muito da mata nativa ainda existia, mas já estava em pleno processo de derrubada. É uma trajetória individual e, mais do que isso, de individuação, de uma mulher que se descobre senhora da própria vida em meio aos caminhos e descaminhos trilhados. Mas também é uma jornada que serve de paradigma para a de levas e levas de migrantes sulistas rumo à região Centro-Oeste. [...]
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Seu trabalho enquanto resenhista é ímpar! Parabéns!
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