Preta em Traje Branco | Dualidades | Dois textos de Joyce Dias
A vida sempre se refaz, no seu curso sinuoso,
começamos novamente. E o que pensávamos ser o contrário, torna - se o certo.
Viver é um desafio diário, todos os dias ganhamos a possibilidade de fazer diferente,
todos os dias estamos mais próximos do fim.
A nós cabe interpretar essa dádiva.
Como escolho olhar para o Tempo?
Estou me aproximando da morte, ou ganhando mais um
dia?
Prefiro pensar que há uma nova jornada a se
iniciar, Machado de Assis diria: "o tempo é um rato roedor das coisas, que
as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto", prefiro pensar
que o Tempo é um grande arquiteto/artesão e ao girar nossa ampulheta, molda
novas possibilidades, compete a nós o auxiliarmos nas obras a serem
construídas.
"Ser livre é não ter medo" , disse nossa ancestral Nina Simone, concluo que não sou livre, pois o que mais tenho é medo pelos meus.
Quando falo da dificuldade em ter filhos, as pessoas me dizem que estou me entregando ao projeto, que não posso me render ao Racismo, que vou atender a agenda... Mas, meu povo, não tô pronta pra isso. E, entendi, que como preta, não foi uma decisão livre - tipo meu corpo minhas regras - não parir, foi construindo em mim por proteção.
Sobonfú Somé afirma: "sabemos que não podemos ter comunidade sem filhos, não podemos ter filhos sem comunidade, e não existiria sem espírito. É um círculo completo, cada elemento de completar o conjunto. Congratulamo-nos com os nossos filhos e assim damos as boas vindas ao espírito."
E eu concordo, o que seríamos sem as crianças e os mais velhos?
Contudo, como lidar com toda esse extermínio e querer parir?
Egoísmo? Covardia? Chamem do que quiser.
Eu não tenho nome pra dar, só sei sentir.
Talvez, eu mude de opinião. Não hoje.
Toda minha solidariedade à família das pequenas, tão lindas e cheias de vida. Que o Orun as receba em festa e que o Sagrado conforte a família em sua dor, que também é nossa. Quando uma criança morre, morremos um pouco com ela, pois "uma criança é valiosa e insubstituível, alguém que não podemos nos dar ao luxo de perder". Sobonfú Somé.
Instagram @escrevivenciasofjoy
Textos e frase: @joycesuell
Arte: @lelegomes.sp
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