Coluna 02 | Fala aí... Isabel Bastos Nunes (Portugal)

| coluna 02 |


A vida on-line

por Isabel Bastos Nunes                                                     (autora convidada)  


Descobri penosamente que a minha vida dependia muito do contacto pessoal, dos abraços e beijos, dos risos e gracejos de todos quanto me rodeavam.

Os convívios informais, as tertúlias, as apresentações e lançamentos de livros que faziam o meu dia-a-dia eram-me absolutamente necessários, mas só tive a noção disso quando me dei conta que as palavras de ordem eram: - isolamento, confinamento, distâncimento.

Ao longo destes meses, o meu contacto e a minha prestação como poeta tem-se remetido on-line (apenas conversando com o meu computador).

Foi preciso chegar aqui, para perceber o quanto me faz falta um simples abraço!

Quando dei conta da realidade, dei-me a ler os postes dos meus amigos em longos desabafos, em partilhas de poemas, músicas, e agradecimentos aos comentários por baixo escritos, coisa que normalmente me passava ao lado.

Egoisticamente pensava mais em mim que nos outros, agora visito-os on-line e estou a par das suas aventuras e cada vez mais me apercebo da quantidade de poetas por esse mundo fora que, tendo valor, são totalmente desconhecidos.

Travei conhecimento (on-line) com poetas Brasileiros, Italianos, Galegos e Espanhóis, com quem troco poemas, compro livros de poesia on-line, e outros produtos…habituei-me a pagar as contas também on-line...falo e vejo familiares pelo WatsApp.

A minha vida ficou pendente do computador ou do telemóvel e a minha cidade ficou vazia…

 

Triste cidade vazia

Onde os dias escrevem histórias

Nas paredes das lojas e cafés vazios

Onde o rumor das conversas emudeceram

E os risos se calaram….

 

No primeiro impacto, a esperança instalou-se no meu coração e a escrita apoderou-se de mim.

Todos os dias escrevia poemas, e pequenos textos dando alento aos outros mas a pouco e pouco o esmorecimento e a revolta apoderou-se de mim ao verificar que as regras que nos tinham imposto, como prevenção e cuidado eram desvalorizadas por alguns o que fazia com que a pandemia alastrasse e a pouco e pouco a frustração de quem cumpre ia caindo no esmorecimento e erguendo-se cada vez mais fez com que me sentisse num palco onde se desenrolava uma peça de teatro improvisada que não era a minha.

Ninguém quer estar sozinho nisto, mas de repente estamos todos sozinhos mesmo estando todos juntos on-line ou no WatsApp!

 

Fui então

Por essas ruas amortalhadas

Em intrépidas calçadas semidesertas

Ladeadas por prédios frios e portas fechadas

Onde os quartos são feios

As janelas pregadas

Onde habitava o silêncio.

 

As pessoas caminhavam tristes

E as tristes estavam sentadas

 

E eu?

Eu só ia à procura das palavras…






Isabel Bastos Nunes, natural de Lisboa (Portugal), grande parte do seu percurso profissional esteve ligado à imprensa escrita. (Visão, Sete e Jornal de Letras) Impala e Promercado. Premiada com o 3º lugar no 2º Festival de Poesia de Lisboa em Setembro 2017 com o Poema “ E a Fome dos Homens transforma-se em Perdição”. Tem vários prémios literários e presenças em diversas Colectâneas. Tem três livros publicados e colabora regularmente em eventos literários. Faz parte do Mulherio das Letras Portugal, desde 2018.

 




 

 

 



 

Comentários

  1. Respostas
    1. Obrigada Fernanda campos, um dia lindo para si.
      Um abraço
      Isabel Bastos Nunes

      Excluir
  2. O pensamento coletivo fleuma ti o escrito na primeira pessoa. 👌

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Ruth Collaço, um dia lindo para si.
      Um abraço.
      Isabel

      Excluir

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