Sete poemas de Rozana Gastaldi Cominal | "Aos protagonistas da cultura viva"

 

Pexels por Pixabay 

Sete poemas de Rozana Gastaldi Cominal

"Aos protagonistas da cultura viva"


Incógnita

 

O que há entre mim e você?

Regras gramaticais, alquimia interina

ou lacunas vazias?


*

 

Flâmula


poeta sou

sigo a voz

que  chama

solta

e

revolta

sigo o peito

que inflama

 

poeta sou

solto a voz

que alumia

a estrada

onde companheiros

me esperam com o

coração na epiderme


japanibackpacker por Pixabay 

Em tempo de guerra

 

imperfeitos gomos

defeito genético em todos os cromossomos

não há dna que nos alivie do que somos




*


Em tempo de paz


destros e sinistros

nem sempre perfeitos em todos os compromissos

há tolerância para os casos omissos


*

 

Decreto fora da lei

·         Dedicado a Thiago de Mello, o poeta da floresta, o homem das vestes brancas

 

Aos protagonistas da cultura viva

fica decretado que vamos cuidar um do outro

um cuidar não  por obrigação

um cuidar que envolve cheiro,

beleza, espinhos e coração

abaixo o capital que insiste

em monopolizar todo tipo de expressão

 

Aos protagonistas da cultura viva

fica decretado que somos a resistência

que integra arte e ciência

gigantes pela própria natureza

dai-lhes, cabeções

cheios de conteúdo e de poesia

porque em nós reina a alegria

 

Aos protagonistas da cultura viva

fica decretado que estamos na luta

que urge contra a aridez cotidiana

o que conta é o respeito à diversidade

seja nos continentes ou nas ilhas

velas acesas abrem as trilhas

aos fazedores de cultura que somos

 

Aos protagonistas da cultura viva

fica decretado um calendário permanente

para aliviar o ranger de dentes

e a saliva das serpentes

seja no quintal ou na esquina

pão e circo ainda é preciso

aos roedores de cultura que somos


(Nota da Autora: Poema que fiz em 2008, o auge dos pontos de cultura pela Lei Cultura Viva  do Governo Federal. Mas nunca esteve tão atual nesse período pandêmico de 2020. É meu grito de resistência pelas vidas que importam. Publicado na revista digital Quarentena Poética, 2020).


*


Fio Condutor


Viver o real – e o que está exposto

e também viver a realidade – a interpretação

do que está exposto,

pois nada é o que aparenta ser.

Imagem. Ação.

A ação da imagem forma a imaginação.

Sou feita de eus múltiplos.

Sou D-eus. O verbo. A ação.

O espírito investigativo

e a persistência alimentam

a construção do meu ser apaixonado

diante das infindáveis possibilidades...

Geração resistente é aquela que garante

o direito de pensar, exercício essencial

para que as criaturas de nossa espécie

não entrem em extinção!

 

*


Travessia dos desvalidos

 

Atravessada  pelo isolamento social

diante do vírus que ameaça total destruição

sociedade distópica causa  exaustão.

Ilhados em nós mesmos,

a autopreservação é luta diária.

Jornada quântica em busca da egrégora que cura.

Conquistas?

Sou periférica, os caminhos são de pedras.

Sonho meu?

Artista que sou, prisioneira da vida,

o que me resta senão representar?

No palco da vida somos todos coadjuvantes,

seja um catador de papel ou D. Quixote de Cervantes,

incorporem seu personagem com estilo

preservem nossa espécie

ou seremos apenas a consciência de grilos falantes?

Malquistas, as janelas se fecham

quando é tempo de abri-las.

Apenas um porta de entrada

quando poderiam ser, no mínimo, duas

se o anfitrião se importasse de fato com os seus convivas.

Convivialidade?

Oh, plebe ignara, passa atestado do quanto

retrocede no tempo e no espaço

em meio à balbúrdia lá fora.

Mas eu ainda estou aqui,

ressoando que o reino da possibilidade vigora.

E não estou só...

Até a Asa Branca bateu asas do sertão

emana um som mesmo que pungente

e nos acompanha e atravessa as fronteiras

em busca de um mundo melhor.


chiplanay por Pixabay.

Os poemas "Incógnita", "Flâmula", "Em tempo de guerra", "Em tempo de paz" e "Decreto fora da lei" foram publicados no e-book Quarentena Poética, produção coletiva organizada por Nirlei  Maria Oliveira:

https://issuu.com/quarentenapoetica/docs/livro-quarentenapoetica

https://medium.com/@nirleimoliveira/quarentena-po%C3%A9tica-a9f8cd642376

O poema "Fio condutor" foi publicado na Antologia Ser MulherArte (2020).

O poema "Travessia dos desvalidos" foi publicado na revista digital Travessias Literárias, edição 1:

https://indd.adobe.com/view/0156ae19-4a16-4891-b396-63b93cde246f



Rozana Gastaldi Cominal, 58, natural de Braúna-SP. Formada em Letras Português/Inglês pela PUCCamp  e com especialização em Docência para o Ensino Superior pela mesma universidade. Atuou como professora de Língua Portuguesa e Literatura na rede pública estadual de São  Paulo e como agente cultural, no serviço público em Hortolândia-SP,   desenvolvendo ações de fomento para as Culturas Populares. Ministra oficinas pedagógicas-culturais e faz revisão de textos.

Publicação de poemas em redes socias, revistas literárias digitais e em  antologia poética pela Komedi (2003); e-books Veias de Anil  pela Leonella (2016), disponível na Amazon; Porque Somos Mulheres (2020); Quarentena Poética (2020).

Mora em Hortolândia-SP

Página pessoal do Facebook: https://www.facebook.com/rozana.cominal

Página pessoal do Instagram: https://www.instagram.com/rozanagastaldi/

 


Comentários

  1. Obrigada! Começo 2021 com uma imensa turma de protagonistas da cultura viva!

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  2. Maravilhosa poeta Rozana! Sua escrita tem um quê de nostalgia, tem realidade e muito do feminino que habita nosso tempo! Tempo de luta e de esperança! Parabéns pelos poemas!

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    Respostas
    1. Obrigada pela leitura! Sim, os poemas retratam minha trajetória e como me posiciono neste tempo-espaço enquanto educadora e agente cultural.

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  3. Leio a vida pelos seus olhos!!! Um mergulho na luz!!!❤️

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  4. Parabéns, amiga poeta! Amei todas, em especial "Decreto fora sa lei" para trabalhar em sala de aula.😍

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    Respostas
    1. Joana querida! Obrigada pela leitura. Sim, tanto que o poema em parte foi feito em sala de aula mesmo, após a análise de " Os Estatutos do Homem" de Thiago de Mello, por isso a dedicatória a ele e referência aos Pontos de Cultura, que, em 2008, ganhavam projeção nacional.

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