Coluna 05 - In-Confidências por Adriana Mayrinck

| coluna 05 |

UNIVERSO VIRTUAL E REAL DA POESIA


SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!



Florbela Espanca, batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa. 
Nasceu a 08 Dezembro 1894 (Vila Viçosa) / Morreu em 08 Dezembro 1930 (Matosinhos)



Nesse universo virtual e real da escrita onde todos são poetas fico pensando com os meus botões, a banalização da palavra e do que é realmente ser poeta. Não, eu não sou poeta e tenho um olhar muito crítico sobre tudo isso. Claro que é a minha opinião e que ninguém tem que aceitar ou concordar. 

Mas lembro-me com os meus dez anos quando ganhei de presente um dos livros da coleção Para Gostar de Ler, com Mário Quintana, Vinícius de Moraes, entre outros. Esse livro me acompanhou por muitos anos, e até a criação do Orkut, eu estava convencida de que para ser Poeta tinha que ter um português perfeito, muito conhecimento sobre literatura e poesia e principalmente capacidade de compor e estruturar um poema dentro de todas as normas e regras, além é claro de uma sensibilidade ímpar. 

Fui crescendo, conhecendo Cecília Meireles, Hilda Hilst, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Camões, Bocage, e tantos mais, e por entre passeios pelo sebo (alfarrábio) do meu bisavô no Rio de Janeiro, e as histórias do meu avô, quando ainda era da José Olympio editora, eu estava realmente convencida de que Ser Poeta e editar um livro era para aqueles eleitos e privilegiados. Timidamente escrevia as minhas percepções e sentimentos e deixava tudo em um diário, como se aquilo fosse o meu segredo e a cada ano, comprava um novo diário e escrevia sem parar. Depois foram destruídos devido a mudança de cidade e é um dos sentimentos de perda que sempre levarei na lembrança, como algo que não deveria ter feito. 

Mas como disse, jamais imaginei que teria ferramentas para os publicar algum dia. E, como quem escreve nunca pára, vieram outros escritos, e os guardei por vinte anos até reunir alguns em um livro. Mas esse incentivo, de publicar em redes sociais e editar, veio justamente depois de perceber que todas as pessoas com o mínimo de sensibilidade eram “poetas” e que eu também podia sê-lo, por que não? Nesses quase doze anos que acompanho esse universo virtual, como autora e produtora cultural, tenho lido muito e conhecido muita gente, com boa escrita e com outras nem tão boas, já vi coisas absurdas e coisas esplêndidas e aprendi a separar o Poeta do Autor, o Escritor do Autor. 

Divulgo e incentivo que a escrita deve ser para todos, assim como a pintura e a música. Tudo é arte e forma de expressão. Só acho que deve haver conhecimento, o autor tem por obrigação saber auto definir-se, e conhecer a sua escrita, dentro dos estilos e correntes literárias, ficar atento com a gramática e a ortografia, por mais que a poesia seja livre e cada um tenha o seu estilo, e principalmente, ter coerência e responsabilidade com a nossa língua portuguesa. Acho que titularidades são adquiridas pelo conjunto de obras, não confiscadas ao nosso bel-prazer.

Se não tem capacidade para criar, melhor apenas admirar o outro, virar leitor, do que plagiá-lo. É feio e vergonhoso. Ah, e tem mais uma observação, somos autores, e precisamos mudar o nosso discurso, por mais que a alma transborde de emoção e seja criativa, não escrevemos com a alma, precisamos aprender a escrever como exercício, estudar, revisar, analisar, melhorar a escrita a cada dia. Falo por conhecimento de causa, escrevia à beira da praia, diretamente no orkut e com o passar do tempo e com o amadurecimento, comecei a ter vergonha dos erros banais que às vezes eram causados por falta de atenção ou pelo corretor, mas já estava lá, circulando por entre uns e outros. 

Aprendi a ter consciência, aprendi a ter capacidade de análise, aprendi a ter humildade e saber o meu lugar, que está bem longe ainda do SER POETA. Aprendi a escrever, ler, reler, reescrever antes de publicar. O caminho é longo e nem sei se um dia conseguirei atingir essa nomenclatura.

Continuo transbordando em pensamentos e sentimentos (coisas da alma) 
e sempre… Aprendendo a escrever, mas não, não sou Poeta!


Quem sabe...um dia!
















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