De Prosa & Arte | Atrás da Porta
Atrás da Porta
Quanto aprendo sobre mim estando atrelada a um punhado e tanto de recordações que outrora foram realidade viva e latente. Sinto um frenesi, um alvoroço. Um estranho medo de me ver assim, desprotegida de mim mesma. Ando enamorada de um eu que já se perdeu, remexendo partes assustadoras do meu íntimo.
Quanto aprendo sobre mim mesma ao refrear impulsos insanos, manter distâncias seguras e o silêncio. Silenciar é fechar a porta, aquela onde escondemos tudo. Tudo que amedronta pensar. Aquela nossa estranha porção, que não desejamos que percebam. É, tem de tudo no quartinho de bagunças.
Quanto aprendo sobre mim mesma quando percebo que minhas palavras contundentes influenciam aqueles perdidos, e me fazem cúmplice de todos os crimes cometidos por eles.
Silenciei.
Mas meu silêncio é ruidoso aqui dentro do peito. Doloroso e patológico, permeado das coisas que não pude desvendar, que não soube descrever, de verdades que preciso ocultar, de todos os desejos calados e de distâncias inconcebíveis de transpor.
Fui uma vendedora de sonhos, a baixo custo. Semeadora de prosa e poesia. Fui a mente que pulsou intermitente, com tudo que sentiu. Um mosaico de intenções, de paixões, de encontros impossíveis, do que busco quando estou só no emaranhado de vestígios no quarto de bagunças reservado da memória.
E ainda aprendo sobre mim mesma, ao lembrar meu reflexo no seu olhar, vultos dessa felicidade antiga ainda me assombram. Recorrentes. Espessos e caudalosos. Então, os tranco às chaves. Para que não eclodam apressados em momentos impróprios, causando ímpetos de luxúria, lapsos de memória e erupções dos meus destemperos e arroubos de emoção.
E vivo uma pseudo harmonia, a saudade às vezes dói.
Isso diz muito não só de voce , diz de mim de nós.
ResponderExcluirObrigada pela leitura querida. Às vezes espio o quartinho de bagunças sempre que abro a porta aquela pilha desorganizada de sentimentos vira verso.
ExcluirAsè