De Prosa & Arte | Quando se quer sair, mas é necessário ficar


Coluna 23




Quando se quer sair, mas é necessário ficar

Abro os olhos, sinto o primeiro respiro lúcido do dia, agradeço às deusas.


Todos os dias após acordar penso em sair.

Sair dessa inércia em que o país se prostrou diante da catástrofe anunciada do  "eu avisei" de todas as hashtags: #foraesse #foraaquele #nãopassarão. 


A real é que eles passaram, ficaram e como cantava Elis: "Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens". Esse final eu parafraseava com "o sinal está fechado pra nós que somos pobres, usamos transporte público precário, que temos o direito à saúde, habitação, estudo e comida negados por políticas que só favorecem os donos do capital.


Vivemos a necropolítica, o genocídio escancarado engendrado por desumanos governantes. 


Quando eu acordo eu quero sair.

Sair desse looping de obscurantismo, negacionismo e alienação que assola a mente, adoece o físico e  o emocional. Nesse país, os dias seguem fúnebres e a coisa tá muito perto de nos atingir em cheio para nos derrubar e ceifar projetos futuros.


Somos lançados aos leões diariamente, vivendo a política do terror, da censura enquanto lacramos quase 3.000 caixões por dia.


Como esperançar um dia sequer fora desse vórtex pandêmico, desse labirinto sanitário?


Fica difícil manter o respiro lúcido de cada manhã.

Enfrentamos o maior vírus da História do Mundo: a ignorância, aliados ao rejeito à ciência, o abuso político, para além de todas as cepas do novo coronavírus.


Veremos o colapso da saúde, a invisibilidade que se dá a quem tem fome ou está desassistido. E a morte, outra vez fará a limpa pelas bordas e franjas da cidade e do país.


Assusta saber que elegeram (eu não) o atraso, a arrogância, a violência, o despreparo. Os grandes detentores das cadeiras, do poder e do capital elegem os matáveis.


E os Matáveis?

Estes somos nós, largados à própria sorte, sobrevivendo de reza, tabaco e etílicos. Pois como diria a amiga de uma amiga: "Este país já não merece nossa sobriedade".


Todos os dias quando acordo e dou o primeiro respiro quase lúcido do dia, eu quero sair. Sair desse pico de desespero. Sair da ansiedade. Sair da depressão. Sair da frustração e do medo. Sair na janela. Sair com os amigos, sair, sair, sair...


Nesse momento me ocorrem os respiros de lucidez contínuos que apontam que mesmo quando se quer sair, é necessário ficar. E não é só por mim, é pelo pacto coletivo de proteção de todas, todes e todos.


Se puder, não saia!

É o momento propício de entender que agora a saída é pra dentro de si.

Então caminhe pro centro de tua força primaz, te reconstrói e te capacita. Quero te ver ao meu lado reerguendo o que restar disso com punho em riste e num futuro breve.


Cuidem-se! Quero vê-los no próximo verão.
















 

Comentários

  1. Exatamente, todos os dias queremos sair, mas as saídas nos são negadas.

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    Respostas
    1. Acharemos uma porta ou janela. Somos de luta!
      Quero te ver no próximo verão meu amigo!

      Excluir

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