De Prosa & Arte | Quando se quer sair, mas é necessário ficar
Abro os olhos, sinto o primeiro respiro lúcido do dia, agradeço às deusas.
Todos os dias após acordar penso em sair.
Sair dessa inércia em que o país se prostrou diante da catástrofe anunciada do "eu avisei" de todas as hashtags: #foraesse #foraaquele #nãopassarão.
A real é que eles passaram, ficaram e como cantava Elis: "Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens". Esse final eu parafraseava com "o sinal está fechado pra nós que somos pobres, usamos transporte público precário, que temos o direito à saúde, habitação, estudo e comida negados por políticas que só favorecem os donos do capital.
Vivemos a necropolítica, o genocídio escancarado engendrado por desumanos governantes.
Quando eu acordo eu quero sair.
Sair desse looping de obscurantismo, negacionismo e alienação que assola a mente, adoece o físico e o emocional. Nesse país, os dias seguem fúnebres e a coisa tá muito perto de nos atingir em cheio para nos derrubar e ceifar projetos futuros.
Somos lançados aos leões diariamente, vivendo a política do terror, da censura enquanto lacramos quase 3.000 caixões por dia.
Como esperançar um dia sequer fora desse vórtex pandêmico, desse labirinto sanitário?
Fica difícil manter o respiro lúcido de cada manhã.
Enfrentamos o maior vírus da História do Mundo: a ignorância, aliados ao rejeito à ciência, o abuso político, para além de todas as cepas do novo coronavírus.
Veremos o colapso da saúde, a invisibilidade que se dá a quem tem fome ou está desassistido. E a morte, outra vez fará a limpa pelas bordas e franjas da cidade e do país.
Assusta saber que elegeram (eu não) o atraso, a arrogância, a violência, o despreparo. Os grandes detentores das cadeiras, do poder e do capital elegem os matáveis.
E os Matáveis?
Estes somos nós, largados à própria sorte, sobrevivendo de reza, tabaco e etílicos. Pois como diria a amiga de uma amiga: "Este país já não merece nossa sobriedade".
Todos os dias quando acordo e dou o primeiro respiro quase lúcido do dia, eu quero sair. Sair desse pico de desespero. Sair da ansiedade. Sair da depressão. Sair da frustração e do medo. Sair na janela. Sair com os amigos, sair, sair, sair...
Nesse momento me ocorrem os respiros de lucidez contínuos que apontam que mesmo quando se quer sair, é necessário ficar. E não é só por mim, é pelo pacto coletivo de proteção de todas, todes e todos.
Se puder, não saia!
É o momento propício de entender que agora a saída é pra dentro de si.
Então caminhe pro centro de tua força primaz, te reconstrói e te capacita. Quero te ver ao meu lado reerguendo o que restar disso com punho em riste e num futuro breve.
Cuidem-se! Quero vê-los no próximo verão.
Exatamente, todos os dias queremos sair, mas as saídas nos são negadas.
ResponderExcluirAcharemos uma porta ou janela. Somos de luta!
ExcluirQuero te ver no próximo verão meu amigo!