MulherArte Resenhas 09 | Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro e nos ensina a libertar por meio da arte

 



Aos 86, Eni Fantini lança seu primeiro livro 

e nos ensina a libertar por meio da arte

- Por Maizé Trindade



Há crença eternizada pela música “Paraíba”, do mestre Gonzagão, de que a paraibana é mulher valente e atrevida. Na verdade se nos dermos ao trabalho de pesquisar, encontraremos exemplos de muitas mulheres inovadoras e progressistas por todo o país. Algumas famosas. Outras, heroínas anônimas, como Eni de Oliveira Fantini.

Eni nasceu na cidade mineira de Sabará, em 1934, ano que marcou a edição da terceira Constituição brasileira, considerada progressista para a época por assegurar avanços. Entre eles, ensino primário gratuito, voto secreto e institucionalização do voto feminino. Com certeza, Eni nasceu bafejada por tais ares de abertura pois revelou-se, desde logo, pioneira.

Após 27 anos dedicados à área de educação, ingressou no Curso Livre de Artes Plásticas da Escola Guignard, em Belo Horizonte. Em 1987, descobriu interesse novo e enveredou-se pelos caminhos das artes marciais. Virou este mundo de ponta cabeça, viajando pelo Brasil e pelo mundo para aprender e ensinar Ki-Aikido. Os êxitos vieram como consequência. Em 1998, no Japão, fez exames com Kochi Tohei Aikido, fundador da Sociedade Internacional de Ki-Aikido. Em 2007, recebeu o reconhecimento pelos trabalhos prestados no Brasil, onde continua atuando como instrutora desta arte marcial.

Era de se esperar que, aos 86 anos, sossegasse o facho. Mas isso não é do seu feitio. Imagino que tenha sido criança que, ante uma dúvida, percebia a língua coçar e lá ia ela extravasar sua curiosidade e inquietação.

Curiosa, Eni parece ter vindo ao mundo para o contemplar, admirar e se perguntar. Inquieta, deseja sorvê-lo com avidez. Sensível, joga luz sobre o não-revelado ou o que permanece obscuro. Despojada, recupera cenas da meninice com a mesma simplicidade que imprime à sua vida. Todos estes predicados estão contemplados no livro que lançou em 2020, em plena pandemia.

Na verdade, o ofício da escrita sempre a acompanhou pela vida, mas só agora ela nos ofereceu a dádiva de conhecê-lo ao publicar “Além do silêncio — confidências”, livro no qual desnuda, sem pudor, sua sensibilidade à flor da pele e revela, com cuidado, seu jeito afetuoso de desvendar o mundo.

Na orelha do livro, sua neta, Sofia Sepúlveda, registra: “Os poemas, contos, crônicas e toda a intimidade ofertada ao público com este livro apresentam a ousadia necessária de uma mulher de 86 anos que nos ensina a nos libertar por meio das artes, a apurar nosso olhar para a vida, convidando-nos a refletir sobre os espaços que nós, mulheres, ocupamos no mundo”.

Eni soube ouvir a voz do silêncio. Seus escritos nos convidam a acompanhá-la nesta aventura capaz de atiçar nosso desejo de aprender a silenciar para ouvir os sons que transbordam da alma.

Eni é artista. Eni é aprendiz. Eni é mestre. Eni é mulher de dar orgulho de ser amiga.


O livro pode ser encomendado pelo email da autora:
eni.oliveirafantini@gmail.com


Maizé Trindade: "Profissional jornalista, sou fissurada na leitura e na escrita. Mulher feminista, vejo-me engajada nas causas que dizem respeito a todas nós, mulheres. Em 2017, após sobreviver a um câncer, reuni lembranças desta experiência na publicação Travessia, fragmentos de um naufrágio. Tiragem pequena, formato cuidadoso, que nem ouso chamar de livro. São folhas soltas que emergiram do meu naufrágio, com reflexões sobre a dolorosa travessia. Atualmente, estou empenhada na escrita da biografia de um educador nordestino paulofreiriano. Mulher, defino-me como feminista. Ideologicamente, coloco-me ao lado de todas as causas progressistas. Filósofa, continuo buscando resposta para muitas indagações. A filosofia não me deu respostas, mas me ensinou a fazer perguntas. Tenho 71 anos, sou mineira e tenho muita vontade de seguir aprendendo."



Comentários

  1. Libertador, todo tempo é tempo para intercâmbio de experiências, de vivências e de artes compartilhadas!

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