Preta em Traje Branco | A autoestima concebida de Arleide Nascimento


Coluna 21


A autoestima concebida de Arleide Nascimento

Sou Camisa de Força

 

Sou vento forte

Sou também ventania

Sou a brisa leve

Sou mormaço e também maresia

 

Sou o samba de roda

Sou negra que samba

Sou batuque e senzala

Sou cajuína e cana caiana

 

Sou a tempestade

Sou o reboliço

Sou muvuca e ventania

Sou a chuva de granizo

 

Sou sofrimento e descontentamento

Sou entrega e devolução

Sou amor e desejo

Sou vulcão em erupção

 

Sou loucura e camisa de força

Sou amor e sou paixão

Sou intensa e maluca

Pra aguentar: haja coração! 


*******************

Reverso

 

Quando sou eu quem elogia

Você tenta entender o processo

Abro a porta do carro pra você

É  contrário é reverso


E você depois delira e faz os versos

Poema do salto, alto da cinta liga

Eu só tento entender o manifesto

Eu quem domino ou te conduzo

Eu te dou prazer e amo, confesso


É estranho e diferente

Você diz que é retrocesso

Há quem diga que é loucura

Há quem fique possesso


É tão ilimitado 

meu poderoso domínio

Sim, sou toda excesso


Eu dou as cartas te dominando

No meu mundo tão reverso

Tão feminista e matriarca

Pira comigo nesse progresso.


*******************


Espelho de uma mulher gorda

 

Me vejo no espelho

E sempre descontruo

Desconstruo os padrões da sociedade

Que com certeza, não  me incluo

 

Ah, sociedade mal amada!

Me observo e gosto do que vejo

Vejo curvas exuberantes

Que matam qualquer um de desejo

 

Olho para o reflexo

E começo assim a analisar

Como alguém pode ser tão  preconceituoso?

E do meu corpo não  gostar

 

Sou dotada de inteligência e alegria

Quem está do meu lado, não  quer me deixar

São  tantas resenhas e sorrisos largos

Como posso eu, o meu corpo não amar?

 

São  tantas curvas  inexploradas

Estradas perfeitas para se andar

São cheias de amor e de loucura

Tem certeza que não quer experimentar?

 

Meu reflexo no espelho, te digo na certeza

Que até podem não  gostar

Mas o que eu vejo são curvas perfeitas

Que muitos se negam... mas amam amar

 

Meu corpo exuberante

Tem tudo que uma mulher precisa ter

Tem uma mulher linda e resolvida

Dotada de amor próprio e de prazer 


*******************


Capoeira Minha vida 

 

Minha vida é  capoeira

Minha vida é  vadiar

E onde tem capoeira

É lá  que vou estar

 

Não  importa a distância

Faço de tudo pra chegar

É bom estar com minha galera

E capoeira, eu jogar

 

Há quem diga que é loucura

Esse meu amor sem fim

Mas capoeira é minha vida

Ela quem me envolve assim

 

Como diz um velho mestre

A capoeira é  feiticeira

Ela encanta e consome

Quem se envolve em sua teia




Arleide Nascimento, mulher preta, filha de nordestinos, artista plástica, poetisa, capoeirista, formada em Serviço Social, cresceu na periferia da zona sul de São Paulo. Tem seu primeiro contato com a Arte em 1994. Em 1996 começa a praticar capoeira contemporânea e se apaixona pela ginga, faz ali alguns trabalhos artísticos pintando quadros, fachada da academia onde treinava e pinturas com temas voltados para capoeira. No início de 2016 é provocada pelo amigo, Roberto Beiramar, e reproduz artes de Caribé em sua academia de capoeira Angola e coloca sua Arte nos berimbaus do professor. Em 2019 é convidada para reproduzir artes de Carybé em Campinas-SP nas paredes, fachada, berimbaus do grande e renomado Mestre Topete, amplia sua arte com pinturas em camisetas, telhas de barro e telas. Tem toda sua Arte voltada para a cultura afro brasileira usando como inspirações: o Jongo, a Umbigada, a Umbanda e o Candomblé.

E-mail: leideservico.social@hotmail.com

Instagram: @leidetdxalinda

Pintura e Fotos @leidetdxalinda





 

Comentários

  1. Trabalho lindo! Parabéns pela arte e sensibilidade.

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  2. Sou fã dessa mulher sua arte é perfeita, seus poemas toca na alma
    Parabéns pela iniciativa se q é só o começo
    👏👏👏👏

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