Preta em Traje Branco | Dois Gritos Aguerridos de Ana Paula de Oyá


Coluna 23


Dois Gritos Aguerridos de Ana Paula de Oyá

amazoniareal.com/ gelèdes


COMO DANDARA E NZINGA

 

Tire a mão de mim seu moço

Que aqui tu não arruma nada.

 

Se é força que o Senhor tem,

Eu posso mostrar que também a sei usar.

Pois, de onde eu venho,

 a capoeira é a nossa maior arma...

E a ginga se faz com Inteligência

 

Tire a mão seu moço,

Não tire a paz do meu espírito.

Não me faça atiçar minha ira,

que te derrubo com uma jogada de perna

 e um giro

 

Sou Guerreira assim

Representação atual de Dandara e Nzinga

Que com hombridade, negritude e beleza

Nunca fugiram de uma briga

 

E por honra e por amor que eu te digo:

 que tenho meu valor!

 

Tire a mão seu moço,

Que aqui tu não arruma nada!


***************************


DIREITO

 

Dizem que quando nascemos tudo o que seremos e viveremos está escrito.

Escreveram que eu seria uma mulher com muitos direitos e muitas vontades.

Direito a ser uma mulher negra bem resolvida, com opiniões esclarecidas. 

Uma mulher que não baixaria a cabeça pra ninguém principalmente do sexo oposto.

Ousada nas atitudes e nas palavras. Fora dos padrões se assim desejar.

Estudar, trabalhar, ser mãe, preta, amiga, pensadora e poeta.

A mulher preta tem o direito de ser o que quiser. 

Seu destino estava escrito e não a quem ouse questionar. 

Você é sim forte, bonita e inteligente.

Mas na lei da vida, junto com os direitos sempre caminham os deveres.

Seu dever é esquecer que dentro do peito bate um coração, que não tem outra finalidade, a não ser a fisiológica de te manter viva, para usufruir de todos os seus direitos.

Foi decretado no dia do seu nascimento que amor só de mãe, filho e  profissão. 

No máximo uma coisa ou outra pra distração.

Seu dever é se manter forte no propósito de parecer forte.

Não busque o que não lhe pertence, insistir e perder tempo.

Seus direitos e deveres já estão escritos na sua linha do tempo. 

E não há tempo pra pensar em coisas do coração.

Seja sempre valente, usando sempre a razão e mente, se contente.

O que é seu de direito, já te pertence!


pixabay.com/Hansuan_Fabregas

Ana Paula de Oyá, é Mulher, filha e mãe preta. Tem como principais formações as Ciências Biológicas, Psicopedagogia e Pedagogia.  Professora na rede estadual de ensino. Defensora da utilização da escola como espaço de integração entre a Cultura Periférica e Educação. Tem a escrita como arte e terapia, não rotula sua escrita ou seus pensamentos, eles são livres.





 

Comentários

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

Cinco poemas de Catita | "Minha árvore é baobá rainha da savana"

A vendedora de balas - Conto

DUAS CRÔNICAS E CINCO POEMAS DE VIOLANTE SARAMAGO MATOS | dos livros "DE MEMÓRIAS NOS FAZEMOS " e "CONVERSAS DE FIM DE RUA"

A POESIA PULSANTE DE LIANA TIMM | PROJETO 8M

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M