Prosa Poética | Infortúnios Nocivos, por Jeane Tertuliano
|Coluna 03|
É dia. Dos noticiários televisivos, jorram infortúnios nocivos: mais Marias foram violentadas e / ou estupradas cobardemente. Ainda assim, é dia. Pessoas acordam e vivenciam suas rotinas sem despertar ante o constante oscilar dos monstros que vêm e vão de suas pseudojaulas. As vítimas, quando não são postas em túmulos, seguem existindo sem porquê nem para quê num mundo que insiste em apontá-las como culpadas, crê?
Nada novo por aqui nem acolá...
Independente das injustiças acometidas àquelas que sofrem desde que nasceram, é dia. O grito que ousou irromper das entranhas doloridas foi fisgado pela violação abrupta de um pai (?), padrasto, tio, vizinho etc. É dia, mas a lei continua a dormir quando o assunto em pauta envolve uma pobre coitada vestindo saia curta, batom "vermelho cheguei" nos lábios e hematomas enfeitando o seu corpo depravado.
É dia? Os algozes que deveriam habitar a escuridão da noite andarilham livremente aonde bem entendem. A Maria que ousar delatar um assédio, será devidamente punida se não trouxer em si mesma, provas contundentes do sacrilégio, do contrário, o ato desprezível será ignorado descaradamente.
É dia! Feminismo não é vitimismo! É sinônimo de luta pelo alvo em iminente perigo, que anseia apenas por igualdade perante uma sociedade indiferente às mazelas sofridas a muitas mulheres inocentes que foram lançadas à fogueira injustamente por feras hediondas disfarçadas de cristãos que utilizavam o credo como desculpa para cometer leviandades absurdas em meio a grandiosa farsa que era a tão aclamada devoção.
É dia, as bruxas não serão queimadas novamente! Em nosso âmago, maior é a chama que evoca o sagrado feminino e une o passado ao presente. A poesia secular nos envolverá em seu compasso experiente e calejado, privando-nos do passarinheiro que à espreita aguarda um descuido nefasto que impedirá a futura geração de voar.
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