De Prosa & Arte | Despertei em versos pra te poetizar na Aurora


Coluna 31


Despertei em versos pra te poetizar na Aurora


Outra vez, ouso entrar nas linhas e entrelinhas dessa relação sem rótulo e sem título, pra lhe dizer que ontem despertei em versos na claridade visível da janela do sexto andar. Despertei em versos na Aurora Boreal pra te dizer que essa ousadia de te poetizar, talvez esteja na mania de refletir afetos: coisa recorrente na minha breve andança pelas estradas escritas de música e poema.


Ao me deitar, escolho corpos-poemas para penetrar as paisagens oníricas do meu universo paralelo, para acalentar meus sonhos, iluminar o céu do meu inconsciente com cores que variam entre o cor-de-rosa e o laranja. As minhas brumas.


Talvez seja saudade, essa loucura de te olhar em fotos, de te mirar de longe e sorrir sozinha. Ou quem sabe ainda deixar salgar a estrada-pele do meu rosto, com medo de lhe esquecer o gosto.


A melhor parte de despertar esses versos, é poder ter no alcance duma manhã que se desenha, um voo lúdico-poético no teu corpo que me arrebata. Saiba que nunca acho demais estar perto de você, sempre tenho algo ainda pra dizer e pra ouvir. É ótimo te ver sorrir, se realizar, estar em paz, lutando para dar caminho as tuas andanças.


Você sabe lidar com uma preta, com carinho, delicadeza, suavidade e pegada, não lhe falta absolutamente nada. Despertamos em estrofes inteiras aprendentes nesse lance de relacionamento, auto estima, reconhecimento, amor afro centrado. Ainda cometemos gafes e equívocos.


Por mais que eu disfarce meu  corpo inteiro reage a tua proximidade, desculpe os exageros, “as fanfarrices”, não sei ser diferente, entrego o todo e não amo no raso. Aquelas manhãs nubladas, por favor: não entenda como cobrança, pressão, ou algo que te bote contra a parede.


Eu sei o que pode ser meu, o que quer ser meu e o que talvez nunca seja meu. Só confundo as bolas as vezes - talvez de propósito - pro meu bel prazer. Porque tenho correndo nas minhas veias a liberdade conquistada à duras penas. 


Com você, eu experimento felicidade mesmo. Nosso despertar em versos, com cheiro de lavanda e flor de laranjeira, algumas vezes esboça um incômodo sentimento de dúvida e confusão. Não há o que ser dito nesses dias, a companhia nos basta e a paisagem da janela translúcida, trazendo a performance do amanhecer de novos sonhos, acolhe meus medos.


E eu queria poder desfazer tudo o que já fiz e que está posto na minha vida, só pra te mostrar que sempre há esperança. Mas a feitura que me forjou, me trouxe até você. Então, acolho.


Nosso amor afro centrado não é garantia de felicidade eterna, vai ter muitos ruídos ou alguns dissabores. Será necessário saber calibrar. Esse amor é anúncio de completude, de resistência e aquilombamento.

E saiba que aquilo que desejamos e ainda não temos, será nosso quando for o tempo certo, eu tenho usado isso como mantra e também pra projetar no Universo. Porque somos coisa una.

Eu me emociono em ouvir sua voz, eu sinto você. Eu não podia ter passado por essa breve existência sem te experimentar: como pessoa, profissional, amigo, música e sonho.


Não vou me desculpar pela bagunça. Sou deste modelo. Trago intensidade nas entranhas, nas madeixas, no bronze da pele. Gostaria que as coisas fossem mais fáceis e simples. Mas não são. Já aprendi a resistir. Quando você chega e quando se vai - e sei que volta.

Meu afeto é sem regras, sem limites, sem prisões. "Amor de verdade é livre... Não fica tentando cercar" - Fióti

Hoje pela janela descortinada do sexto andar. Silenciei minha ruidosa insistência de moleca mimada. Sou quase inofensiva agora.

Ouço o barulho do chuveiro, seguro uma xícara de chá entre as mãos, te vejo caminhar enrolado numa toalha, alimentar os bichos. Um bonito bailado.

Abrimos a porta do seiscentos e um. Partimos. Sei quando chega e quando se vai, também sei que volta. Então, não me desespero mais. Aproveito a aurora, é bom acordar em versos contigo!






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