Dois poemas de Arundhathi Subramaniam | Traduzidos para o português por Shelly Bhoil

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Dois poemas de Arundhathi Subramaniam

Traduzidos para o português por Shelly Bhoil


Um lar

 

Dá-me um lar

que não é meu,

onde posso entrar e sair dos quartos sem deixar um rastro,

nunca me preocupando

sobre encanamento,

a cor das cortinas,

a cacofonia dos livros ao lado da cama.

 

Um lar que posso usar com leveza, onde os quartos não estão entupidos com conversas de ontem, onde o eu não incha

 

para preencher as fendas.

 

Um lar, como este corpo,

tão estranho quando tento fingir, tão hospitaleiro

quando decido que estou apenas visitando.

 


Home


Give me a home

that isn't mine,

where I can slip in and out of rooms without a trace,

never worrying

about the plumbing,

the colour of the curtains,

the cacophony of books by the bedside.


A home that I can wear lightly, where the rooms aren't clogged with yesterday's conversations, where the self doesn't bloat


to fill in the crevices.


A home, like this body,

so alien when I try to belong, so hospitable

when I decide I'm just visiting.


Imagem de Eelffica por Pixabay. 

Uma outra forma

 

Para se balançar

de momento a momento,

tecer uma cláusula

que deixa o quarto

para reminiscência e surpresa,

que respira,

acolher vírgulas,

mergulha e voa

através de bolsa de ar do vogal

permanece sobre a granularidade da consoante

nunca correndo para o ponto-final,

às vezes contente

com a ponto de interrogação,

mesmo que seja o mais velho no livro

 

Para ficar

na vasta barulhenta abertura

da página

rasgada pela chuva,

fazendo a pergunta

que foi perguntada antes,

sabendo que a tempestade das mil bibliotecas

vai levá-la à escuridão

 

Para não deixar pegadas

em aluvião quentinho

nenhuns ecos Dolby

para revibrar através das

salas de oração, nenhuns epitáfios

 

nenhumas bandeiras açafrão

 

Essa também foi uma forma

de manter a fé.


 

Another Way


To swing yourself

from moment to moment,

to weave a clause

that leaves room

for reminiscence and surprise,

that breathes,

welcomes commas,

dips and soars

through air-pockets of vowel,

lingers over the granularity of consonant, never racing to the full-stop,

content sometimes

with the question mark,

even if it’s the oldest one in the book.


To stand

in the vast howling, rain-gouged openness of a page,

asking the question

that has been asked before,

knowing the gale of a thousand libraries will whip it into the dark.


To leave no footprints

in the warm alluvium,

no Dolby echoes

to reverberate through prayer halls, no epitaphs,

no saffron flags.


This was also a way of keeping the faith.



Arundhathi Subramaniam é uma aclamada autora indiana de onze livros de poesia e prosa. Ela recebeu o Prêmio Khushwant Singh, o Prêmio Raza de Poesia, o Prêmio Zee Feminino de Literatura, o Prêmio Internacional Piero Bigongiari na Itália, o prêmio Mystic Kalinga, o prêmio Sahitya Akademi entre outros.



Shelly Bhoil é uma escritora indiana que mora no Brasil.

 


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