Dois poemas e duas crônicas de Patrícia Coolian | O mundo é grande, e é pequeno também
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Dois poemas e duas crônicas de Patrícia Coolian
O mundo é grande, e é pequeno também
03/01
Fez
chuva hoje, e fez um sol também.
Fez um
por do sol ainda mais lindo.
Fez
silêncio dentro de todo barulho.
Cada
um escuta aquilo que mais grita.
Quem
tem gritado todo dia é o silêncio.
E foi
assim que foi possível,
Admirar
todas as cores que o céu pintou.
Deus
brincou com as cores da sua palheta hoje,
Será
que quando Ele pinta assim,
é
porquê está feliz, ou por que esta em silêncio também?
Só sei
que é lindo e, que é impossível, não sorrir
ao
lembrar de todas aquelas cores no céu
do céu
pro
seu
*
Domingo, 27 de Agosto, 2017.
Acordo
tarde, à noite anterior tinha sido de festa. Comemoramos o “nascimento” de uma
jovem médica. Festa linda, lindos sorrisos. Tanta gente junta para desejar
grandes realizações a esta nova formanda do curso de medicina.
Mas a
noite é longa, e o mundo é grande, e é pequeno também...
A
festa começou por volta das 20:30, e nossa anfitriã fazia questão de que cada
convidado levasse consigo na ocasião um pacote de fraldas geriátricas tamanhos
M ou G. Seria uma forma de fazer um envolvimento social de cada participante. E
foi prontamente atendida! Lindo de se ver a quantidade arrecadada.
Boas
comidas, muita bebida, todos bem servidos toda pompa e circunstância que as
formaturas de medicina se reservam a ter. No meio do evento, discurso
emocionado dos pais da nossa anfitriã. Muitas palmas! “Hoje a sociedade ganha
mais uma médica!” palavras ditas pelos pais.
Mas a
noite é longa, e o mundo?!
Ah!
Como é grande, e é pequeno também.
Amigos
que há tempos não se viam se reencontraram, brindaram juntos, festejaram
juntos.
Ao
entrar da madrugada uma notícia preocupa, um acidente na cidade envolvendo
cinco veículos. Nenhum óbito!
Entretanto
o consumo de álcool é uma realidade em eventos como esse, e a direção também.
Eis o motivo da preocupação por quem deixa filhos na festa e por quem vê outros
que saem da festa.
Duas
da manhã. Para mim hora de voltar para casa. Chego em casa sem contratempos,
tudo certo vamos dormir.
Mas o
mundo é grande, e é pequeno também.
O dia
amanheceu. E no celular, mensagens para serem lidas e áudios para serem
escutados. Dentre todos elejo os que seriam prioridades. Inicio por um áudio. E
dizia assim, com a voz embargada:
“Dra.
Aly acabou de se suicidar. Foi 1 tiro na cabeça, na sala. O Dr. Seuo ainda não
sabe.”
Nesse
momento nada faz sentido. Não coube julgamentos. Não cabem desculpas, tampouco
é possível entender. Porquê tudo que se pode em vida conseguir ela teve.
Títulos, monções honrosas, status, família, reconhecimento... tudo.
Será
que foi o tudo que teve, ou o nada que faltou?
Ontem
nasceu uma médica, hoje, uma se matou. E contraditoriamente a isso, foi essa última,
quem me tocou pela primeira vez e me ouviu chorar pela primeira vez. Me ajudou
a vir pra esse mundo.
É por isso que eu digo, o mundo é tão grande, mas é tão pequeno.
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Verde
Esperança
Ele
vestia verde.
Boné
era verde,
Camiseta
era verde,
Os
cadarços no seu tênis esverdeados de sujeira, eram verde fluorescente.
Até a
sujeira em sua bermuda à deixava em um tom de verde.
Por sorte,
sua alma devia estar se alimentando dessa esperança.
Mas a
barba era preta, forte e cheia, mesma cor da sua pele.
Que
destoava de todo aquele verde.
Talvez
pra lembra-lo da miséria, da fome, do lixo que com aqueles olhos enormes e
famintos ele nem selecionava, só comia.
E
ainda assim sorria.
Enquanto
isso eu via,
Enquanto
isso eu trovejava e chovia,
da dor
que sentia.
*
Uma cena
Duas
crianças desfilam, uma maior outra menor. Vestidos soltos, sujos, rasgados
iguais aos seus cabelos. Mas os olhos firmes e empoderados.
O
homem está gordo, barriga redonda facilmente 8 meses, sentado no chão, sujo
comia com as mãos, a sombra esfriava os sentimentos e a grama se fazia de
tapete.
O
mundo não para, e tudo é barulho, eu não me escuto e as palavras saem sem
sentido. As cachorras fogem, tem barulho demais. Tem álcool também. Tem fala
demais, gente demais.
O Zé
nasceu hoje. Meus pensamentos estão assim, feito um bêbado aliciado, um drogado
marginal. Eu bebo minha realidade e queria fumar meus desejos, depois vê-los
saindo como vapor de dentro de mim. Vapor barato. Eu ainda escuto o sabiá do
jardim. Ele é insistente são quase 3 da tarde, o que não quer dizer nada. Tomei
um café. E agora tomo vários tragos. Marafo. Eu encho o copo outra vez. Eu
bebo, escuto mantras. Eles preenchem meus ouvidos, tão alto que me dá prazer.
Dou risada. Meus olhos não. Bebo outro trago. Tempos insanos, pessoas doentes,
vidas morrendo.
Tudo
esvaindo, meu hálito é ácido. Eu queimo.
Pausa
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Do meu
lado tem um açucareiro indiano, de cristal, mas dentro é só açúcar; demerara.
Não adianta tantos adjetivos, é só açúcar, e por mais ou menos que se diga,
açúcar mata.
Tudo
mata. Outra vez, drogas em nosso cotidiano. Todo mundo é viciado? Ei, qual seu
vício HÁ-HÁ (deboche)
Covarde,
escreve tudo, você pensou, seja honesto com seu papel. Sujo, lixo, pesado,
imundo, hipócrita. Você e sua cena deprimente. Mas um trago.
Queria
um cigarro. A fumaça com certeza ia preencher esse espaço, esse vazio, esse nada.
Além.
Telefone
é um saco. Ele não para. O lixo tá na rua. Hoje vêm os “coletores”, eles
levam aquilo que você não consome, aquilo que você transforma em podre,
inutilizável, sujo, fedido, feio, tudo que você não usa. Pena que não tem um
lixeiro emocional, um lixeiro daquilo que você pensa e produz.
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Patrícia Coolian, natural de Urânia, formações acadêmicas pela UFMT – CUR em Contabilidade e Letras / Inglês, psicanalista em construção, há dois anos no processo de análise. Esta é sua primeira publicação.
Que orgulho de você, Patrícia! Mas qual é a surpresa? Você nasceu para grandes coisas, e pequenas também, porém o que importa mesmo é que você está construindo consciência e belezas pelo caminho! Parabéns!
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