Seis poemas de Ana Luzia Oliveira | ProfAna

Imagem de Alexandr Ivanov por Pixabay. 

 Seis poemas de Ana Luzia Oliveira


ProfAna

 

O sagrado está presente.

Rezo, peço, me oriento,

pauto minhas ações

no Amor que flui através de mim,

na intuição que me invade,

no amparo que sinto.

 

O profano está presente.

Xingo, julgo, explodo,

comporto-me inapropriadamente,

na raiva que brota das entranhas,

na vaidade que me assola,

na beligerância que travo diariamente.

 

A mulher está presente.

Desejo, sinto, choro,

não sei o que fazer,

na confusão de um coração

que ora se quebra, ora se abre,

no diálogo efervescente

de uma mente que não cala,

no corpo que se disponibiliza

para servir a um propósito maior

e que também deseja,

repudia ou embala o outro.

 

Sou verdade quando sagrada.

Sou verdade quando profana.

Sou verdade quando mulher.

 

Só não seria eu,

se não pudesse ser tudo.



Meu Amor, a Escrita

 

De todas as vezes que me perdi.

foi a escrita que me pegou pela mão 

e me trouxe de volta a mim mesma.

 

Ela já me trouxe de passados e de futuros

e deles também já me trouxe

lembranças e planos.

 

Seu passe livre na linha do meu tempo

me resgatou inúmeras vezes

de lugares de que eu precisava desapegar 

e de ilusões que jamais se realizariam.

 

Eu confio nesta bússola 

que já atravessou tantas tempestades, 

mesmo naquelas em que perdi o norte,

porque a escrita é aquela que me revela

ainda que eu não a revelasse a ninguém.


(Poemas do livro solo ProfAna, em pré-venda 27/08/2021, publicado pela Margem Edições)


Imagem de Alexandr Ivanov por Pixabay. 

Transcendente

 

Eu nasci mulher.

Mas nem sempre foi assim...

Primeiro, tive que aprender

a ser o que não era,

porque não me aceitavam como eu sou.

Julgavam-me pelo meu corpo,

mas meu corpo não era eu.

Era algo que nasceu comigo,

mas que minha alma

não reconhecia como certo.

Certo é o que nossa cabeça pensa

ou que o nosso corpo sente?

Certo é o que nossa essência pede

ou o que a sociedade pensa?

No espelho em que me via,

não me reconhecia

Nas roupas que vestia,

me sentia nua.

Uma vida que não era minha

era tudo o que eu tinha

e isso era nada.

Então, eu me despi

do corpo que não era meu

e só assim consegui ser Eu.


 

Mulher na pista

é carne em gancho de açougue.

De primeira?

De segunda?

Pra comer bem ou mal-passada?

Mulher na pista,

manipulada,

desrespeitada,

rejeitada.

A tal da lei da oferta e da procura,

a caça e o caçador,

o desvalor do feminino.

Recatadas, deveríamos ser.

Putas, só quando requisitadas

para satisfazer

desejos, vontades, perversões.

Caladas, deveríamos ficar,

salvo para enaltecer

os grandes feitos dos nossos homens,

ou melhor,

dos nossos donos.

Não.

Nem adianta explicar

se você não entendeu.

Simplesmente,

 

NÃO


(Poemas do livro Vozes Escarlate, coletânea de obras do Coletivo Feminista Vozes Escarlate, integra a Coleção Pangeia, publicada pelo Selo Editorial Hecatombe, da Editora Urutau, 2021)


Imagem de Alexandr Ivanov por Pixabay. 

Apresentação

 

Em meu nome, Luzia,

referência a uma luz que vinha

de muito tempo antes da minha.

Luz de estrelas em um céu de muitas luas,

do brilho de olhos reluzentes,

de antigos faróis que iluminavam horizontes.

Luz que veio vindo

entre os espaços de muitas vidas,

passadas de mão em mão

e de sol a sol por cada ancestral.

Luz que chegou de repente,

rompendo instantes de escuridão

e se fez vida, com forma e nome,

nome de Ana que também é Luzia,

Luz, Lumina, essência.

luminescência de busca de luzes iguais.


 

Perdida

 

Leio e releio,

mas não sei o que escrevo.

Passo os olhos por passar,

procuro alguma coisa que me salte.

Nada me faz parar,

em nada me detenho.

 

A cabeça no ontem,

a intenção no amanhã,

no hoje, a sensação de inadequação.

 

De que tempo eu serei,

se não sou do Agora?

Será que somos de algum tempo

que não seja

já?

 

(Poemas do livro Janelas, a ser publicado no segundo semestre de 2021, em coautoria com Neysi Oliveira, pelo Selo Auroras, da Editora Penalux)


Imagem de Alexandr Ivanov por Pixabay. 



Ana Luzia Oliveira é Terapeuta Sistêmica. Integrante do Vozes Escarlate, coletivo feminista autor do livro Vozes Escarlate (Urutau/2021). Autora dos livros Legado (Venas Abiertas/2021) e ProfAna (Margem/2021). Autora de poemas selecionados em antologias. Coautora do oráculo Lâminas da Mãe Terra. Autora da seção semanal “Leitura de Mãe Terra para os Ciclos Lunares”, no Blog Feminário Conexões. Autora de contos publicados no Blog da Margem e na Revista La Loba



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