Três poemas de Juliana Blasina | Do livro "Toracotomia caseira"
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Três poemas de Juliana Blasina
Do livro Toracotomia caseira
UTENSÍLIOS
Como dizer
usando colheres
dizer
enquanto borbulha
dizer sem
queimar
o arroz
dizer de
dentro de uma panela
de cinco
litros
picando
legumes
com as
pontas dos dedos
como dizer
encarando batatas
sem ironia
dizer
que seu
destino é virar
purê.
como dizer
entre colheres
conchas
e
escumadeiras
que a faca
é também
um objeto
feminino.
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VÉSPERAS
Abramos
pela página quarenta
lá onde
Adélia
pousa a
velhice entre as folhas
lá onde
Cecília
bate com
remos n'água
o céu
nublado das duas
sussurra a
liturgia das horas
o céu
nublado das seis
e eu
sonhando um peixe vivo
no raso
das poças.
TORACOTOMIA CASEIRA
Abrir o
peito com as mãos
esse espaçador sem aço
não é tão
fácil quanto supõem os versos iniciais
prender os
dedos em pinça na carne dura do peito
enfrentar
a derme na escassez de gordura
a pega
frustrada de diminutas falanges distais
abrir no
fundo do armário da cozinha
a caixa
vazia de ferramentas
tomar emprestado o alicate de Felix
o martelo Ivánova de avermelhar papel
ter sobre
a mesa um objeto em cada prato
olhar, sem
a coragem necessária para tocá-los
penso logo
como seria manusear uma motosserra?
e o abrir
o peito não passa
de um
beliscão mal dado
algo jaz encerrado
na escuridão do tórax.
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