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Mostrando postagens de setembro, 2021

A Face da Divícia | Um Náutilo

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  Coluna 03 Um Náutilo - Por Divanize Carbonieri Quando ele surgiu do éter, eu já estava conformada com a minha situação. Tinha desistido de espernear e gritar por socorro. Ninguém iria me ajudar mesmo. Talvez fosse a palermice depois de tanta picada. O fato é que não me assustei com a sua carranca esverdeada boiando no ar. Afinal, não deixava de ser uma bela cor, igualzinha àquela do gramado em frente. Só achei insana a recomendação que me prescreveu. Mas quem era eu para julgar? É mister que Vossa Senhoria ingira quarenta copos de água a cada rada do dia. Primeira vez que se dirigem a mim com tal reverência, e o que vem a ser rada , meu Deus do céu? Isso nem falei em voz alta, mas ele já foi logo respondendo porque o danado ouvia pensamentos. Vinte e quatro são as horas de um intervalo diário, que, divididas por quatro, contabilizam seis. Cada um desses conjuntos constitui um rada . Hum, são dez copos por hora, não? Perfeitamente! Bastante coisa, e quando eu estiver dormindo? Adorme

Cinco poemas de Valéria Paz | "Era vida e se quebrou"

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  Imagem de David Zydd por Pixabay.   Cinco poemas de Valéria Paz Era vida e se quebrou Agulhas às vezes um demiurgo encontra uma veia de bom calibre e tira um pouco de poesia pra meu uso pessoal de outras, apenas me fura e me anestesia da dor das palavras Homo inhabilis não quero aprender nada de novo nem ioga, nem krav maga nem dança de salão nem esporte radical nem fotografia, nem jardinagem nem fazer pão ou cerveja nem customizar minha roupa nem postar vídeo no youtube nem falar mandarim não vou acumular outras inabilidades ao que já não sei ao que já me escapa ao que já me basta de ignorâncias inacabadas e são muitas e são profundas mas como não têm nada de novas me cabem e me confortam nesse momento de espanto em que me perdi de mim Imagem de Gerd Altmann por Pixabay. Ouroboros tem um vazio todo dia me devorando pelas beiradas quando chega no âmago no centro do nada me vomita num jorro e começa de novo como aquela cobra infinita maldita com um furo no meio ciclo da vida uma ova p

Poema | Fremente, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 09| Palavras são vertidas silenciosamente dos lábios escarlates que denotam perversão aos pútridos olhos dos cidadãos de bem que, imersos na maldade,  provêm egoicos rebentos do reflexo peçonhento da grandiosa pequenez. A densidade corpórea do sexo oprimido é fremente. Anseia por ser lida e compreendida nas entrelinhas das rimas que ecoam ritmadamente ao som da mudez dorida infligida a tantas Marias. Já não podemos ser belas, recatadas e do lar...

MulherArte Resenhas 14 | O "Domicílio" de Marta Cocco: A arte de habitar a poesia contemporânea - Por Eduardo Mahon

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  O Domicílio de Marta Cocco:  A arte de habitar a poesia contemporânea   - Por Eduardo Mahon A beleza de ler um livro ainda não publicado é que, depois que encarna no papel parece ser algo completamente diferente. Exilado no Manso, há mais de 1 ano, li o copião do atual Domicílio (Gesto, 2021). Senti um gosto meio amargo de balanço, fim de festa, noves fora, trocando em miúdos. Talvez fosse a pandemia, o sol escaldante, o cenário do cerrado bruto. Li várias vezes como se, na poesia de Marta, houvesse alguma salvação. Nunca há. Quem sabe, dê-se justamente o contrário. Agora, devidamente vestido de capa e contracapa, o livro confirma a minha sensação inicial. A maturidade cobra uma espécie de retrospecto, antologia ou exposição do que se aprendeu até aqui. Não poderia mesmo ser um livro esperançoso em meio ao nosso contemporâneo desesperançado.  Domicílio abre-se em cômodos, cada qual dedicado a um estilo e/ou tema, prato cheio para os estruturalistas que babarão de gula com a “antig

MulherArte Resenhas 13 | Posfácio ao livro "Carga de Cavalaria" de Divanize Carbonieri - Por Paulo Sesar Pimentel

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  Posfácio ao livro "Carga de Cavalaria"  de Divanize Carbonieri - Por Paulo Sesar Pimentel “Eu não quero as réguas para traçar meus caminhos. Eu prefiro as éguas, num galopar torto y veloz” (Antônio Sodré)   “Pastora de nuvens, por muito que espere, não há quem me explique meu vário rebanho. Perdida atrás dele na planície aérea, não sei se o conduzo, não sei se o acompanho” (Cecília Meireles)   Como uma cavalgada, ler este livro é experimentar ritmos: frente a uma planície tão ampla, pode-se trotar, vagarosamente, degustando imagens pelo caminho, ou, num galope veloz, atravessar as distâncias que Divanize Carbonieri constrói. Esta obra, deste modo, fotografando em palavras que necessitaram ser selecionadíssimas, dadas as limitações do haicai, funciona igual a uma bula que ensina a sobre como olhar, no dorso de um cavalo, o mundo em movimento e, ao mesmo tempo, em pé, na beirada da floresta, as tantas possibilidades de liberdade. Não nos enganemos, leito

Uma crônica de Yvonne Miller | Sobre Mesas e Armários

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  Imagem de Dakub por Pixabay. Uma crônica de Yvonne Miller SOBRE MESAS E ARMÁRIOS   É a minha primeira lembrança. Devo ter uns três, quatro anos. Restaurante, meia-luz, o tilintar de talheres ao encontro com a louça, vozes, risos, cheiro de queijo gratinado e cebola frita no ar, garçons de camisa branca e calça social se movem ágeis entre as mesas. Numa delas estão sentados meus avós, pais e tias. Enquanto esperam a comida, me deixam explorar a área, correr entre as mesas, brincar com as outras crianças. E lá está ela. Uma menina de cachos loiros e vestido vermelho. Não consigo tirar os olhos dela, como se nunca antes tivesse visto uma criatura semelhante. Ela corre até o fundo do restaurante, dando gritos de alegria, e eu corro atrás. Ela se agacha para engatinhar por debaixo de uma mesa e lá vou eu também. Ela volta correndo para o outro lado e eu a sigo. Não vejo o garçom que balança uma bandeja cheia de copos no ar — só tenho olhos para ela. Ele desvia no último momento, a ban

Um ensaio de Isabel Furini | A Poesia e sua Função

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  Imagem de Willi Heidelbach por Pixabay. Um ensaio de Isabel Furini A POESIA E SUA FUNÇÃO     Introdução Quando falamos de poesia precisamos entender que entramos em um campo com múltiplas visões. Alguns consideram que um poema de qualidade deve ser sofisticado; para outros, o poema revela a alma de um povo e, por isso, deve ser desprovisto de palavras inusuais e de construções complicadas.   Tive a oportunidade de ser jurado de alguns concursos e foi muito interessante perceber que cada um dos componentes das equipes (professor, jornalista, escritor, poeta, crítico literário, editor, membro de alguma Academia de Letras ou bibliotecário), tinha uma opinião formada e difícil de modificar. Alguns amam poemas com rima, mas na opinião de outros ela torna o poema limitado, pois é preciso escolher palavras pela terminação e não pelo significado.   Um grupo considerava a poesia como expressão da alma; já para outro a poesia  exige um trabalho apurado para escolher as palavra

Para não dizer que não falei dos cravos | "Retratos" e "Autorretratos" de José Inácio Vieira de Melo

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  Coluna 25 "Retratos" e "Autorretratos"  de José Inácio Vieira de Melo RETRATOS     ESTRANHO NICHO Para Tita do Rêgo Silva Vejo tanto bicho nesse estranho nicho que fico perplexo por encontrar nexo.   As formas de Tita regam pelo solo mutantes caprinos, abismos sonoros.   São estranhas vidas, bacanal carmim, de uma vera artista sabor buriti.   JARDIM DO OLHAR Para Rubens Jardim   Os teus olhos tem azuis, luz de poesia acesa a alumiar as veredas.   Olhar perdido no Cosmo, num transbordar de caminhos, constelações que adivinhas. Faróis das longas distâncias, tuas retinas de rimas acariciam os passantes. E quanto mais longe miras, mais brilham tuas pupilas grávidas de infinitudes. Surge, agora, outro olhar, nova nau da percepção: um livro canta a paixão aos sentidos de um leitor, que em suas páginas viu um poeta virar jardim.     FOTOGRAFIA Para Ricardo Prado   Cavalo escuro atravessando claros   o ritmo do teu olho capta aquele momento que passa.   O íntimo d