Para não dizer que não falei dos cravos | "Retratos" e "Autorretratos" de José Inácio Vieira de Melo
Coluna 25 |
"Retratos" e "Autorretratos"
de José Inácio Vieira de Melo
RETRATOS
ESTRANHO NICHO
Para Tita do Rêgo
Silva
Vejo tanto bicho
nesse estranho nicho
que fico perplexo
por encontrar nexo.
As formas de Tita
regam pelo solo
mutantes caprinos,
abismos sonoros.
São estranhas vidas,
bacanal carmim,
de uma vera artista
sabor buriti.
JARDIM DO OLHAR
Para Rubens Jardim
Os teus olhos tem azuis,
luz de
poesia acesa
a
alumiar as veredas.
Olhar
perdido no Cosmo,
num
transbordar de caminhos,
constelações
que adivinhas.
Faróis
das longas distâncias,
tuas
retinas de rimas
acariciam
os passantes.
E
quanto mais longe miras,
mais
brilham tuas pupilas
grávidas
de infinitudes.
Surge,
agora, outro olhar,
nova
nau da percepção:
um
livro canta a paixão
aos
sentidos de um leitor,
que em
suas páginas viu
um
poeta virar jardim.
FOTOGRAFIA
Para Ricardo Prado
Cavalo escuro atravessando claros
o ritmo do teu olho capta
aquele momento que passa.
O íntimo do teu olho insculpe
o gesto do instante que escapa:
cavalo claro atravessando escuros.
FADO DESTEMPERADO
Para Luis Serguilha
Luís Serguilha é um passarinho cego
que não para de voar.
Luis Serguilha é um jumento cego
a carregar mil anos de poesia em
seus caçuás.
Kalaharis e Koa'es
são labirintos dos seus pés
curupiras.
Luís Serguilha é um avatar cego
enxergando futuro no passado em
que dormiu.
Luís Serguilha é um marinheiro
cego
que toma vinho do porto e escreve
torto.
Sua poesia nos reconduz às
cavernas
e enquanto isso seu corpo
entreva.
Imagem de Pexels para Pixabay. |
AUTORRETRATOS
3X4
Meu retrato
três
por quatro
tem o
traço
do
passado.
Tão
presentes
suas
marcas
que de
frente
me
embaraço.
Será
mesmo
que estou
preso
neste
espaço?
Que
surpresa
me
reservam
outros
quadros?
P&B
Um retrato,
preto e branco,
de um tempo
sem tamanho.
Aos dez anos
nenhum plano,
toda soma
era sonho.
Nas pupilas,
tanto brilho
de criança.
Ser menino,
que delírio!
Só lembranças...
RETRATO
Meu retrato,
cem por cento,
mostra marcas,
sente o tempo.
Com o tempo
não há acordo,
num repente
ele morde.
Chega e arranca
teus cabelos
cacheados.
E na cara
faz crescer
barba branca.
Imagem de Pexels para Pixabay. |
José Inácio Vieira de Melo (1968), alagoano radicado na Bahia, é poeta, jornalista e produtor cultural. Publicou oito livros e duas antologias, dentre eles O galope de Ulisses (2014), Sete (2015) e Entre a estrada e a estrela (2017). Os poemas aqui publicados fazem parte dos cadernos “Retratos” e “Autorretratos” do livro inédito Garatujas Selvagens, que está no prelo e será lançado em setembro de 2021.
Feliz de quem tem este dom Divino de semear encantamentos! José Inácio e tantos outros merecedores de 👏👏!
ResponderExcluirParabéns, José Inácio! Aguardamos o lançamento de Garatuja Selvagem. Sucesso!
ResponderExcluirMeu adorado poeta JIVM, pintor de palavras e de gentes, parabéns por nos presentear com mais esses poemas. E estou a esperar pelo seu novo livro. Beijos!
ResponderExcluirA poesia do Zé Inácio sempre me toca a alma...e a respiracão fica suspensa de tanto encantamento! Obrigada pela sua poesia, Zé, que Deus te ilumine sempre!
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