A POESIA DE ROSANA CHRISPIM | Projeto 8M
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
Hoje é dia de mergulhar na incrível e intensa poesia de ROSANA CHRISPIM:
1)
confia ainda
que há portos
nas cartas dessa ímpar navegação
céu mar embarcação
desfavoráveis
mas há portos
prontos
a receber as passageiras amarras
para restauro do casco
cuidado da máquina
retomada do leme
ao navegador
(in)certeza e travessia
aos portos
(* poema do livro 'Entretempo')
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2)
eles que já não
tinham asas
quando nasciam as minhas
aparavam
para que ao usá-las mantivesse
os pés no chão
entendi o ar
e o caminho
por esse axioma
assim
que sendo ave nunca
fui pássaro.
(* poema do livro 'Caderno de intermitências')
-*-*-*-
3)
tão frágeis as
certezas
navio naufragado no porto
corda partida no nó
palavra ancorada em símbolos
não mais
(de)moventes
tão débeis as
razões
movediças à luz
da luz que se acende
expiadas no pano de fundo
das horas
(a)fundadas em águas
defenestradas
não menos
mediatrizes inúteis.
(* poema do livro 'Caderno de intermitências')
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PALIATIVO
novas portas de
bares
farmácias
igrejas
(variações sobre o mesmo equívoco)
abrem-se em profusão
os homens com suas feridas
os males com suas metástases
todos muitos e nenhum
almas cada vez mais rasas
e degradação cumprida
a risco(a).
(* poema do livro 'Caderno de intermitências')
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ELOQUÊNCIA
o silêncio fala
às vezes
fala demais
e até fala
o indizível
o que não há
o que não deve
o silêncio por vezes cala.
(* poema do livro 'Caderno de intermitências')
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6)
sobre mares de lama
poucos
escolhidos logram
andar
7)
QUE FALEI DE FLORES
há vida aqui
a um metro da tragédia
a um passo do abismo
a um palmo do absurdo
sob os versos amarrados
nos lábios em repouso
e olhar demorado
além da sístole-diástole
das aparências
das (in)diferenças
depois dos anos
dos ventos
achaques e quebrantos
apesar das notícias
dos flagelos e do asco
acima e a despeito
da revolta
do imponderável
da turra
pulsa
mansa quase
oculta
sob o couro arrugado
no insulamento
sobre as velas infladas do barco
no estaleiro
há vida aqui
e ela exige.
(* poema inédito, publicado no jornal 'Tribuna Metalúrgica' - smabc.org.br - Poesia do ABC/19 de fevereiro/2021)
ROSANA CHRISPIM é natural de Carandaí/MG, e vive atualmente em São Paulo/SP. Formada em Jornalismo, trabalhou por quase 30 anos como Produtora Gráfica.
Fez parte do 'Grupo Livrespaço de Poesia', de Santo André/SP e, com os demais integrantes, publicou as seguintes coletâneas: Coletânea Livrespaço II (1984); Literatuando - Coletânea Livrespaço III (1985); Subvertida Palavra - Coletânea Livrespaço IV (1988); e Sete Versus Sete (E se resolvermos falar de amor...) - Coletânea Livrespaço V (1990).
Foi uma das editoras da 'Revista Livrespaço' (1992-1993), que ganhou o Prêmio APCA como melhor realização cultural de 1993. É integrante do movimento 'Mulherio das Letras' desde a sua criação, em 2017, e participou da Antologia de Poesias Mulherio das Letras (org. Vanessa Ratton, São Paulo/SP: Costelas Felinas, 2017).
Livros publicados: Semelhanças (São Paulo/SP: Scortecci, 1986); Poética da Essência (plaquete, 1996); Entretempo (Santo André/SP: Alpharrabio Edições/2003); Caderno de intermitências (São Paulo/SP: Patuá, 2017); e Contracena (plaquete, 2017).
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