Cinco poemas de Flavia Ferrari | Do livro "Meio-Fio: Poemas de Passagem"
Ilustração de Daniel Bilmes por Pinterest
Cinco poemas de Flavia Ferrari
Do livro Meio-Fio: Poemas de Passagem
ANUNCIAÇÃO
Não é possível olhar o alto
Se o ar ao redor está todo
preenchido
O espaço pode ser este
lugar sufocante
Nomeado
Mas não reconhecido
Mas não reconhecido
Não é fácil perceber o
gosto
Se o que nos cabe é um
pedaço ressequido
Sem a presença de um todo
Que nos faça acreditar
Não é prudente adormecer no
caminho
Precisamos chegar e
registrar o nome
Para que haja uma verdade
momentânea
Da partida
Do motivo
Da carne viva
Não é comum os sons
perderem a validade
Música esta que canta este
tempo
Em que à memória parece
ruído
Não é errado esconder-se
Da figura insana
Do momento não aguardado
Da convocação que não
admite recusa
Mas não é prudente
ausentarmo-nos
Todos os nossos sentidos
são necessários
Mesmo que não haja espaço
Nem esperança
Nenhum movimento
Mesmo sem a tua companhia
Com a qual era fácil
conseguir encontrar
*
Imagem de Zid: 0 por Pinterest
FRESTAS
Há frestas por onde o sangue aflora
e o excesso escorre
e que cicatrizam
e que cicatrizam
Há frestas que revelam
fragilidade
e uma ruptura iminente
Há frestas que acusam
um passado negligente
futuro incerto
Há frestas que orientam
que contam histórias
e aguentam
Há frestas que não cicatrizam
endurecidas
por onde só passa o ar
imperceptível
Há frestas invisíveis
que só se mostram na claridade
e somem quando chegam as sombras
Há frestas por onde brotam
elementos vivos
quando já não mais acreditamos
e resistem
*
Imagem de Aleksandra Alavanja por Pinterest
CAMINHO
Estou entre
A imobilidade e a excelência
A obstinação e o abandono
A dança e o adormecer
A consciência e o delírio
A imobilidade e a excelência
A obstinação e o abandono
A dança e o adormecer
A consciência e o delírio
Falta pouco
Falta muito
Falta direção
Falta companhia
Estamos (todos)
Entre a vida e a morte
Em que parte do caminho?
Há tempos ando em círculos
Melhor recomeçar
*
Imagem de Patricia McClary por Pinterest
LUGAR NENHUM
Um barco à deriva
Por mais que esteja perdido
Tem como endereço
Um oceano
Um rio
Um nome
Um porto
Uma mente à deriva
Por mais que esteja lúcida
Perde-se em lugares sem endereço
Sem nome
Sem gente
Sem margem
Em silêncio
*
PROPÓSITO
Para quem não tem asas
Voar é muito difícil
É preciso um destino e confiar que haja ar ao redor
Para quem não se sente livre
Sonhar é um desafio
Não avançamos para além dos primeiros momentos
Para quem sente muito medo
Imaginar pode ser muito assustador
Tememos que a imaginação atravanque nosso caminho
Que precisará ser desviado
Para os que se denominam corajosos
É preciso ter história pra contar
Um certo desconhecimento de si
E uma audiência crédula
Para os revolucionários
Uma faísca basta
O futuro que vislumbram
Poderá curar quase toda dor
*
capa do livro Meio-Fio: Poemas de Passagem
"MEIO-FIO: POEMAS DE PASSAGEM é um livro de uma
mulher que nasceu preparada para guerra: carrega a força do berro feminino
silenciado que se rompe, sem explodir em violência, e sim em uma sensibilidade
clariciana, a qual não nega a condição áspera da vida, se esfola e faz da
ferida uma janela para a anatomia da vida e das relações humanas.
É um livro raro, de uma sensibilidade acessível e extremamente profunda que não se perde em construções excessivas. Flavia Ferrari explode suavemente a poesia que respira. Sem dúvidas, é uma poeta que terá um crescimento gradual contínuo que nasce com o dom de dissecar a linguagem poética, descobrindo uma glândula pineal coletiva.
Para Jéssica Iancoski, editora-chefe do 'Toma Aí Um Poema', “A poesia vem para Flavia Ferrari de maneira cotidiana e intuitiva. Percebe-se que há muita facilidade, como se versar fosse um dom natural"." (Release do blog 'Toma Aí um Poema')
É um livro raro, de uma sensibilidade acessível e extremamente profunda que não se perde em construções excessivas. Flavia Ferrari explode suavemente a poesia que respira. Sem dúvidas, é uma poeta que terá um crescimento gradual contínuo que nasce com o dom de dissecar a linguagem poética, descobrindo uma glândula pineal coletiva.
Para Jéssica Iancoski, editora-chefe do 'Toma Aí Um Poema', “A poesia vem para Flavia Ferrari de maneira cotidiana e intuitiva. Percebe-se que há muita facilidade, como se versar fosse um dom natural"." (Release do blog 'Toma Aí um Poema')
FLAVIA FERRARI é natural de Santana de Parnaíba/SP e residente em São Paulo/SP, é mãe, professora, escritora e poeta. Escreve poesia desde a adolescência, estreando em publicações em 2020, no início da pandemia. Também escreve contos infantis desde 2014. Teve poemas publicados pela 'Escrita Cafeína', pela 'Revista Pixé' e pela 'Toma Aí Um Poema'. É autora do livro 'Meio-Fio: Poemas de Passagem' (Editora Toma Aí um Poema, 2021). Mantém um relacionamento amoroso sério com a poesia.
Amigo flavia , há uma doçura em sua leveza de se expressar , mas permita o meu deleite.
ResponderExcluirMeus poemas preferidos ;
Psi
Habita um desejo que nunca se sacia
Entre a origem e o destino
Entre o proibido e o permitido
O mesmo querer.
Frestas
Há frestas por onde o sangue aflora
Há frestas que revelam
Há frestas que acusam
Há frestas que orientam
Bjs
Há frestas que orientam
Parabéns, Flávia! Pelas frestas, pelos caminhos sua poesia tem propósito.
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