JAQUELINE CONTE EM PROSA E VERSO | Projeto 8M
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
1)
(...) - Faz uns dez dias. Numa manhã como esta, um passarinho azul apareceu do nada aqui em casa.
Ele tentava entrar na sala da frente e dava de cara no vidro da janela. Batia, voltava um pouco, sentava-se na tela de proteção pra pegar fôlego e voltava a se jogar contra a vidraça. Uma, duas, três... dez vezes. Depois desistiu e foi embora.
- Tadinho! E o que você fez enquanto ele se batia, mamãe?
- Fotografei.
- Só isso?
- Não. Também fiz um poema.
- Que poema? - indagou o moleque, sempre interessado nas histórias que a mãe contava.
E a mãe falou o poeminha de cinco versos:
Kamikaze
Quer entrar a qualquer custo
Não, passarinho! - assusto
Vidro não é infinito
- Gostou?
- Gostei. Mas por que kamikaze, mamãe? Você acha que o passarinho quer mesmo se machucar?
- Não, filho. É só uma maneira de dizer que ele estava... vamos dizer... "dirigindo perigosamente " - riu a mãe.
- Ele podia ter se machucado no vidro.
- Isso mesmo.
- Tá. Mas isso ainda não explica o sorrisinho perdido que você tinha quando eu cheguei. (...)"
(* excerto do livro Passarinho às oito e pouco, págs. 9/11)
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2)
OS JORNAIS DE GERALDINE
O CADERNINHO AZUL
Todo início de tarde era assim: depois de voltar da escola e almoçar, Geraldine corria para o antigo cesto de vime onde ficava o jornal do dia. Com o calhamaço de papel no colo, já suficientemente bagunçado pela leitura matutina feita pelo pai, ela manuseava com agilidade as grandes páginas, sempre em busca da mesma seção, o Obituário.
Lá, onde aparece a lista das pessoas da cidade que morreram no dia anterior, a menina procurava os nomes mais interessantes e os anotava com letra bem redondinha em um caderninho azul turquesa, sem linhas.
Todo mundo achava estranho o hábito da menina.
- Credo, Ivonete, a Geraldine está obcecada por esses nomes! Eu falo pro pai dela que ele tem que pedir pra mudar de setor na Prefeitura. Essa história de ser administrador de cemitério não está fazendo bem pra cabeça da menina - dizia tia Júlia à moça que cuidava da casa e de Geraldine, durante a tarde.
- É, dona Júlia, depois que o seu Arnaldo contou pra ela que os nomes de quem ia parar no cemitério eram publicados no jornal, ela não para mais com esse rasga-rasga-folha. Todo dia, arranca página daquele jornal e escreve um montão de nomes naquele caderninho. Valha-me, Deus, que não sei mais o que fazer! - reclamava Ivonete.
Mas Geraldine não se importava com o que pensavam. Seguia sua pesquisa diária, colecionando folhas de jornal e anotando os nomes que lhe despertavam maior curiosidade; nomes que, a partir de então, pertenceriam a ela e a seu inseparável caderninho azul.
Naquela semana, já havia reunido mais de uma dezena de nomes. Seis deles, Gleusa, Ataxerxes, Rízia, Preciosa, Írio e Ambrosia, anotou só na segunda-feira - ela não sabia por quê, mas ouviu seu pai dizer que o obituário era mesmo mais recheado às segundas. Na terça, escolheu Uzulita, Elizama e Adalgiso. Na quarta, ficou maravilhada em encontrar Normando e registrou-o rapidamente no caderninho, logo abaixo de Eudóxia e Ananias. E assim ia Geraldine, no seu turismo de nomes. (...)"
(* excerto do livro Os jornais de Geraldine, págs. 7/10)
3)
4)
5)
A terra é femme, menino!
É preciso respeitar as fêmeas
Respeitar a fêmea
Como um menino
Que se nutre dela ao nascer
Que a respeita e admira quando
criança
Que a deseja e precisa quando
encontra o primeiro amor
Cadê aquele menino
Que sempre a viu como se dela
fizesse parte
Como se nunca tivesse havido
separação?
Onde está seu yin,
Velho menino?
Volte pra terra
Nós te chamamos!
Te esperamos de braços abertos
Como a mãe que não rejeita um filho ausente
Como a amante sempre quente
Como quem não aceita menos do que
aquele inato respeito
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