UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M

fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M

Mulheres não apenas em março. 
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão, 
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)

Hoje é dia de viajar com esse pequeno excerto do incrível livro infantojuvenil "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", da escritora e ilustradora Angela Carneiro:


A CASA DA BISÁ

"Conforme Seu Joaquim dissera, a porteira estava destrancada. Nando pulou da van para abri-la e tornou a fechá-la. Passaram pelo caminho estreito de terra, e logo o telhado da velha casa aparecia, aos poucos, entre as copas das árvores. Assim que o carro parou, as crianças saltaram, seguidas por Pingo, feliz, abanando o rabo.

- Ei, ei! Podem vir voltando, mocinhos! - gritou tia Tereza - Cada um carrega o que pode. Deixem só as malas grandes no carro, que o Joaquim ajuda a gente a levar pra dentro quando voltar.

Meio contrariados voltaram, cada um carregando um saco, uma sacola.

Mal abriram a porta da casa, ouviram o telefone tocar.

- Eu atendo! - gritou Dinho já correndo - Mãe! É o Seu Joaquim! - tornou a gritar.

Tereza foi atender e voltou com a notícia. 

- A Marieta só torceu o tornozelo. Nada grave, graças a Deus, já foi atendida, está tudo certo. Ela só está no Posto de Saúde esperando conseguir uma muleta emprestada e já vem.

O telefone volta a tocar, Dinho atende novamente e grita:

- Mãe! É a tia Matilde.

- Oi Matilde! Acabamos de chegar! A viagem correu bem. Tá certo. A gente espera. Um beijo. - Desligou e avisou aos sobrinhos:

- Nando! Joana! Sua mãe disse que só vai poder vir no outro fim de semana. Apareceu um imprevisto e a pintura do quarto de vocês só começará na quinta-feira. Mandou me obedecerem, senão vai arrancar o couro de vocês quando chegar!

- Ah, tia, duvido que ela falou assim! Isso é coisa sua.

Tereza riu. O telefone voltou a tocar.

- Nossa! Aqui está parecendo casa de presidente da república. Dinho, atende!

- É a cobrar!

- Pode deixar que eu vou - disse a tia demonstrando certo cansaço. - Alô? Oi, Antônio! Tá tudo bem,  a viagem foi boa. Sei... não vai poder esse fim de semana? Sei, tomara que dê tudo certo! Estamos torcendo! Um beijo, querido!

Dessa vez não anunciou o atraso do irmão, foi até os sobrinhos e avisou:

- Boa notícia, meus lindos: seu pai arrumou entrevista de emprego! Mas, infelizmente, é em outro estado, vai ter que viajar, aí não vai poder estar conosco nesse fim de semana, só no outro, viu? Mas a tia aqui vai tomar conta e vocês vão se divertir muito!

Os gêmeos deram de ombro, pareciam não se importarem, mas os olhos de Ritinha perderam o brilho.

- Vamos lá, Ritinha, alegria! Vem me ajudar a colocar as coisas na cozinha, depois a gente vai ver seu quarto.

- Posso dormir com você?

- Depois a gente vê isso! Primeiro vamos organizar as coisas, desfazer essas sacolas.

Os meninos estavam doidos para explorar aquela casa velha, cada um de seu jeito. O mau-humor de Joana era evidente. Olhava tudo com ar de nojo.

- Argh! Tudo é velho e poeirento! Aposto que está cheio de bichos e formigas.

- É possível, minha sobrinha querida, mas lembre-se de que durante muito tempo a humanidade conviveu  com bichos, poeiras e formigas, e viveu muito bem. Para de reclamar e vem ajudar: Dinho, Ike, Dudu, Dado e Nando! Todo mundo aqui na cozinha ajudando a tia!

- Uau! O que é isso, mãe? - Quis saber Ike ao ver o fogão à lenha.

- É o fogão à lenha, meu filho! Lembra que eu sempre contei a vocês como as comidas da Bisá eram maravilhosas? Pois é, eram cozinhadas aqui, neste fogão de lenha. A comida fica com um sabor especial.  Vejam só as panelas: ferro! E pesadas! Ah... nem imagina o trabalho que é para limpar! Antes de irem ao fogo, o melhor é passar bastante sabão em volta, pra fuligem não escurecer o ferro. Lavar depois fica difícil,  mas pelo menos sai tudo. 

(...)".

capa do livro Nem tão sozinhos assim...

Sinopse de "Nem tão sozinhos assim...":

"Sete crianças da cidade ficam sozinhas, ilhadas em um sítio desconhecido, sem comida, energia elétrica ou gás. Com um temporal, barulhos da mata, uma única lanterna e muitos mistérios, elas fazem uma descoberta surpreendente - um livro antigo encontrado na casa dá dicas de sobrevivência em tempos difíceis. Quem teria escrito palavras tão importantes, práticas e animadoras?"

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8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas' iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.


fotografia do arquivo pessoal da autora 

Angela Carneiro é carioca, residente no Rio de Janeiro, formada em Pedagogia pela PUC/RJ, mestre em Educação e autora de uma tese sobre criatividade. Estudou artes plásticas e línguas. Foi professora de expressão gráfica na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. É escritora de livros infantojuvenis e para adultos, além de ilustradora e tradutora.

Foi premiada várias vezes, com destaque para o Prêmio Jabuti, categoria melhor livro infantil ou juvenil, com o livro Caixa Postal 1989, e  com o selo de Altamente Recomendável para o Jovem, da FNLIJ.

Livros publicados: Qual o caminho do sol? (José Olympio/1989); Meu olho é um planeta (José Olympio/1993); O inventor de palavras (José Olympio/1995); O primo do amigo do meu irmão (FTD/1996); Caixa postal 1989 (José Olympio/2000); Melhor de três (Ática/2004); Nos traços de Michelangelo (Ática/2007); Quem canta seus males espanta (Edebé/2007); Palavras de fumaça (Rocco/2010); Festa de 15 anos (Rocco/2012); Café com biscoitos (Cintra/2013); A onça e o bode e a banda da mata (Nova Fronteira/2014); Caixa surpresa (Nova Fronteira/2014); Nem tão sozinhos assim... (Lê/2014); Rodas, pra que te quero! (com Marcela Cálamo, Ática/2019); Jogo limpo (Formato/2019); As duas pedras (Nova Fronteira/2020); e Quarentena crônica (eBook/2021).



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