A POESIA E A PROSA DE ADRIANA BARRETTA ALMEIDA | Projeto 8M
fotografia do arquivo pessoal da autora
8M
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)
Navegue pelo universo tão especial - na poesia ou na prosa infantojuvenil - de ADRIANA BARRETTA ALMEIDA:
1)
A ÚLTIMA FOLHA
(...)
Era uma vez uma folhinha.
Ela tinha muitas companheiras,
folhas pequeninas como ela.
Moravam todas numa
árvore enorme, e lá das
alturas, se divertiam na
língua das coisas miúdas.
Gostavam de dançar com as gotas da chuva,
de se balançar com o vento e de brincar de
esconde-esconde com os passarinhos.
E assim como sua amizade, elas foram
crescendo
Tornaram-se folhas grandes,
de um verde profundo e suave (...)
(* excerto do livro infantojuvenil A última folha, pp. 4/7)
capa do livro A última folha
-*-
2)
AVE GATINHA
Ave gatinha cheia de graça
Pega o garfo e agora disfarça
Gatinha, gatinha bendita sois vós
Debaixo da mesa com fome atroz
Santa Maria, ai meu Deus
Gatinha, os repolhos são todos seus
Rogai pela minha beringela
Que eu passo muito bem sem ela
Agora é hora da sobremesa
Pudim de amora, que beleza
Gatinha, gatinha, não vem que não tem
Pudim de amora eu não fico sem.
Amém!
(* poema do livro infantojuvenil Poemear de pernas pro ar, p. 8)
capa do livro Poemear de pernas pro ar
-*-
3)
COMO QUEM NASCE
"eu faço versos como quem morre"
(Manoel Bandeira)
eu queria um poema
que me explicasse
que ao contrário do poeta
eu fizesse os meus versos
como quem nasce.
que alegria amarga
que tristeza doce
dessa melancolia larga
que a poesia trouxe.
que a poesia trouxe
ou que trouxe a poesia?
se esse avesso exposto fosse
o que eu talvez nunca seria.
eu faço versos
como quem nasce.
em cada letra desse universo
um passo se deixa
um rastro se colhe
minha alma se canta
e sabe encontrar-se.
(* poema do livro Todo laço é feito de areia, p. 11)
-*-
4)
CONSTRUÇÃO
o que se perde no tempo
e a gente carrega como a casa
carrega o tijolo e cimento
a vontade de pedra, o tormento
tornado em areia
soprado num vento
pra um outro lugar
o olhar que se turva
de pavor, de prazer
e se perde
na curva do esquecimento
É a vida que passa
a memória que cega
É a massa que molda
de momento em momento
E a gente carrega
o tijolo e o cimento
(* poema do livro Todo laço é feito de areia, p. 12)
-*-
5)
À CECÍLIA
Já fiz de espelho tantas ondas
que nem me lembro da minha face.
Recolho da areia o meu nome
pra que o mar nunca mais
o disperse.
(* poema do livro Todo laço é feito de areia, p. 17)
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capa do livro Todo laço é feito de areia
6)
Sinopse sobre o livro
TODO LAÇO É FEITO DE AREIA
"Os versos gerados pelo talento e a inspiração de Adriana Barreta ganham o corpo e a densidade trazidos pelo tempo, a reflexão e a precisão. Mas é uma lapidação ao contrário. Como a pedra e o tijolo que se desfazem em pó (um simbolismo que percorre o livro), os poemas captam o amor e a vida se diluindo, gota a gota, em incertezas e distâncias. Sem tragédias, nem espantos, a dor da perda se desenha em pequenos gestos, rastros, sopros e cinzas. É neste oceano de impermanência/ permanência que Adriana nos conduz, corajosa, sem medo da dissolução que o início e o fim sempre carregam. [...] Deste árduo e necessário processo de morrer e renascer, surge, altiva, a mulher-sangue, a leoa-mãe, a voz que reivindica o mundo. É por todas nós que a poeta então arde. Pelas mulheres esquecidas, pela natureza devastada, pelas Helenas silenciadas pelas fogueiras da história. Na poesia de Adriana, a sensibilidade, a sutileza e a beleza também sabem sangrar, construir e eternizar."
(por Cassiana Pizzaia)
-*-
7)
O ABRAÇO DO OURIÇO
Se não era aquilo
e não era isso
qual era a tristeza
do pequeno ouriço?
Ele ouvia a vida inteira:
- ouriços são espinhosos.
E disso nos orgulhamos.
- Os outros bichos,
quando chegamos,
saem de perto.
- Porque fomos feitos pra espetar.
e não era isso
qual era a tristeza
do pequeno ouriço?
Ele ouvia a vida inteira:
- ouriços são espinhosos.
E disso nos orgulhamos.
- Os outros bichos,
quando chegamos,
saem de perto.
- Porque fomos feitos pra espetar.
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(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.
fotografia do arquivo pessoal da autora
ADRIANA BARRETTA ALMEIDA é natural de São Paulo/SP, e atualmente reside em Curitiba/PR. Estudou Letras na USP e Artes Visuais na EMBAP. É especialista em Literatura Infantil e Contação de Histórias, Arte e Cultura Visual, e mestre em Psicologia da Educação pela UFPR. É professora e escreve histórias infantojuvenis, além de poesia.
Livros publicados: A última folha (infantojuvenil, Insight/2017); Poemear de pernas pro ar (poesia infantojuvenil, Insight/2018); Todo laço é feito de areia (poesia, Penalux/2020); O abraço do ouriço (infantojuvenil, Aletria/2020); e O tango do gato (infantojuvenil, Preguiça/2022).
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