UniVerso de Mulheres 16 : A Performance "Avó do Mundo " de Rosi Waikhon, por Valeska Brinkmann e Rosi Waikhon
A Coluna Uni-Versos de Mulheres, cede a fala esse mês a Rosi Waikhon, que nos conta da performance "Avó do Mundo", realizada em 12 de junho de 2022
Projeto Avó do Mundo
por Rosi Waihkon
Por décadas ouvimos que nossas terras eram lugares inabitados, geograficamente sem ocupações humanas.
Nos bancos escolares, os livros didáticos também afirmavam isso, deixando nossas mentes um tanto confusas.
Até que decidimos recorrer à memória de nossos antepassados, nossos Avós - como costumamos dizer, pois eram elas e eles quem nos narravam sobre a criação da humanidade e dos lugares, as Casas Ancestrais, onde vivem os seres que não enxergamos com os olhos (mas que sempre estão observando nossos passos).
Então nos chega a seguinte questão: Como pensar na desconstrução dessas teorias reducionistas e discriminatórias construídas há décadas?
Decidimos promover pequenas atividades - da mesma forma que fazem as abelhas e outros bichinhos que pousam nas flores, realizando o importante trabalho da polinização.
São esses insetos, por mais minúsculos que sejam, que deixam a floresta, as roças e os quintas mais bonitos e vivos.
Em vista disso, foram feitas pequenas apresentações em lugares chamados Casas Ancestrais, locais onde certas passagens das narrativas milenares ocorreram.
Como o Morro do Cancão (agora denominado de de Morro Boa Esperança)*.
Essa performance é também uma maneira de "polinizar" e fazer com que floresçam mais de nossas histórias indígenas.
Outro fator interessante foi que nas últimas semanas encontramos um grupo de cientistas realizando escavações arqueológicas. Passamos então a observá-las e vimos que elas traziam antigos sinais do nossos Avós.
Consideramos esses sinais das escavações como "rastros" ou "pegadas" de mais de 2 mil anos deixados por nossos ancestrais, uma certeza de estarmos no caminho certo.
Tanto a performance como a composição do cenário das apresentações de Avó do Mundo foram possíveis graças ao Prêmio Amazônia Criativa, fomentado pelo Governo do Estado do Amazonas.
A poesia Viva a Vida, de minha autoria foi traduzida em alemão e sueco, fazendo também parte da performance.
* O Morro do Cancão foi o local onde o Pássaro Cancão pousou e teria ficado de tocaia vendo o momento em que a cobra-traíra passaria. Assim, pode avisar o demiurgo, que perseguia cobra para salvar seu filho, engolido por ela nas imediações do rio Uaupés.
VIVA A VIDA
Quero o silêncio
Quero olhar as curvas do rio
Quero ver flores desabrochando
Quero ver abelhas beijando flores
Apenas pequenos momentos
Continuar sonhando
E protegendo
O território deixado por nossos Avós
Viva a vida!
Viva os Avós das vinte três etnias do Alto Rio Negro
Território indigena alto Rio Negro saudamos !
Rosi Waikhon
LEBE DAS LEBEN
Ich will die Stille
Ich will die Kurven des Flusses sehen
Ich will die vollen Blüten sehen
Ich möchte die Bienen beim Blumen küssen sehen
Nur einen Augenblick
Um weiter zu träumen
Und zu schützen
Das Land, das uns unsere Großeltern hinterlassen haben
Es lebe das Leben!
Es lebe die Großeltern der dreiundzwanzig Ethnien des Alto Rio Negro
Land des Alto Rio Negro, wir grüßen sie!
Tradução alemão Valeska Brinkmann
LEVE LIVET
Jag vill ha tystnaden
Jag vill betrakta flodens vindlingar
Jag vill se blommor som blommar
Jag vill se bin som kysser blommor
Bara små ögonblick
För att fortsätta drömma
Och skydda
Landet som våra Förfäder lämnade oss
Leve livet!
Leve Förfäderna till tjugo och tre
folk från Alto Rio Negro
Ursprungsfolkens land Alto Rio Negro, vi hälsar dig!
Tradução para sueco Anna Åkesson
Rosi Waikhon, indígena do povo Waíkhana – Piratapuia, é bióloga, ativista, poeta e cientista. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM e mestra em Antropologia Social – UFAM. Atualmente é doutoranda na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, e pesquisadora no Núcleo de Estudos de Populações Indígenas – NEPI. Atua em defesa do Território Indígena do Alto Rio Negro (Amazonas – Brasil) com atividades voluntárias comunitárias indígenas na região e na luta por políticas públicas pelos direitos indígenas. Também coordena o coletivo “ Amazônia Movimento Água, Terra e Floresta”, onde se desenvolvem atividades de revitalização do bem-viver focando na alimentação tradicional indígena, conservação e práticas milenares do manejo da floresta, conservação ambiental e promoção de ações de geração de renda colaborativa. Foi diretora da Federação das Organizações indígenas do Rio Negro – FOIRN e bolsista do International Fellowships Program – IFP da Fundação Ford no ano de 2010. Em 2008 foi vencedora do 5º Concurso FNLJ/INBRAPI Tamoios de textos de escritores indígenas.
Comentários
Postar um comentário