A POESIA FORMIDÁVEL DE NOÉLIA RIBEIRO | Projeto 8M
8M
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)
Mergulhe na poesia formidável [e emocionante] de NOÉLIA RIBEIRO:
REMATE
No fim de tudo
restou apenas a espera
(dias a fio)
por sua confirmação
Quanto a mim
não há problema:
minha dúvida
companheira
me impede
de fazer cena
Quanto a você
eu aguardo
Só tardo
(* poema publicado no livro Escalafobética)
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capa da antologia Trinta anos-luz
SEM AINDA
Perder sem antes ter
Partir sem chegar ainda
Sumir sem surgir de fato
Ir sem os olhos da volta
Morrer ainda embrião
Trapaças vis do coração...
(* poema publicado na antologia Trinta anos-luz e no livro Espevitada)
-*-
SOBRE AS ONDAS
Conversando com o mar,
decifrei meus tsunamis
de paixão
(também os teus).
Consultando o mar,
percebi a inevitável
arrebentação
das ondas ao léu.
Contemplando o mar,
vi-te mergulhar
desvairado,
e me afoguei por um momento.
Compreendendo o mar,
afugentei o vício
de amar sem razão,
salvando-me do afogamento.
(* poema publicado em https://cidadeverde.com, coluna 'Janelas em rotação', 29.06.2017)
-*-
DE MALAS PRONTAS
Desligar as luzes
Fechar as janelas
Trancar a porta
Abrir a bagagem do desconhecido
e desorganizar sentimentos…
Viajar é perscrutar a casa
que levamos dentro
(* poema publicado no livro Espevitada)
-*-
DORAVANTE
Desfaço tua imagem atrás da minha ao
quebrar o espelho do quarto. Contra o peito
aperto os cacos de ti até sangrarem minh'alma
Doravante, ao meu alcance, a cura e a calma
(* poema publicado no site 'www.domingocompoesia.com.br', 27.07.2021, e no livro Espevitada)
-*-
capa do livro Assim não vale
I CHING EM 2020
Pelo olho mágico, vejo o teto encostar na cabeça
dos velhos em genuflexão; o cansaço de nada
vingar-se dos jovens que violam as saídas de emergência.
Avizinho-me do sonho e parto, com as três moedas
do I Ching, no ímpeto de desvendar
o hexagrama em tuas costas.
A raposa atravessa a grande água.
Os corpos celestes movimentam-se.
Pelo olho mágico, tu me vês atrás da porta.
O mundo sem sentimento perdoa
nosso inviolável abraço antigo.
As moedas ficaram no poço.
O desejo, comigo.
(* poema publicado no livro Assim não vale)
-*-
NENHUMA POESIA NO REAL
Para fazer um poema, o poeta escava palavras
nas fissuras. As paredes internas possuem algumas.
A TV aponta milhares de mortos pelo vírus.
O bem-te-vi dá uma palhinha do que o real seria
se não fosse o que é. As formigas antifascistas
trabalham juntas. Os porta-retratos resguardam
epopeias. Os desafetos estalejam sob o piso.
O poeta escreve, escreve, escreve.
Arruma e desarruma versos.
Abre e fecha dicionários e saídas.
E sorri para o poema quase infalível.
À noite, ele ouve a nota subitânea:
Enquanto Mirtes segurava uma
coleira, seu filho de 5 anos caía do nono.
nas fissuras. As paredes internas possuem algumas.
A TV aponta milhares de mortos pelo vírus.
O bem-te-vi dá uma palhinha do que o real seria
se não fosse o que é. As formigas antifascistas
trabalham juntas. Os porta-retratos resguardam
epopeias. Os desafetos estalejam sob o piso.
O poeta escreve, escreve, escreve.
Arruma e desarruma versos.
Abre e fecha dicionários e saídas.
E sorri para o poema quase infalível.
À noite, ele ouve a nota subitânea:
Enquanto Mirtes segurava uma
coleira, seu filho de 5 anos caía do nono.
O poema desencarna. O poeta perde o sono.
(* poema publicado no livro Assim não vale)
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(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.
NOÉLIA RIBEIRO é natural de Recife/PE e reside em Brasília desde 1972. Começou a escrever com 9 anos, quando morava no Rio de Janeiro. É graduada em Letras na UnB, pós-graduada em Linguística no UniCeub, aposentada como Taquígrafa Revisora da Câmara dos Deputados.
Participou da 'Geração Mimeógrafo' com os poetas Nicolas Behr e Paulo Tovar, o cantor Renato Russo e a turma do grupo 'Liga Tripa'. Noélia é personagem de um poema de Nicolas Behr, cujos versos preencheram a melodia da música 'Travessia do Eixão', do grupo Legião Urbana.
Também participa de várias antologias brasileiras, como, por exemplo: 'Trinta Anos-Luz - poetas celebram 30 anos de Psiu Poético' (org. Aroldo Pereira, Luis Turiba e Wagner Merije, Aquarela Brasileira/2016); 'As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira', vol. 2 (org. Rubens Jardim, edição do autor/2018).
Tem poemas publicados em jornais, revistas e revistas eletrônicas (Mallarmagens, Germina, Acrobata e InComunidade, entre outras).
Em 2017, recebeu o 'Prêmio FAC - Igualdade de Gêneros na Cultura' (Secretaria de Cultura do Distrito Federal); integrou a exposição 'Poesia Agora' (Caixa Cultural, Rio de Janeiro/RJ); e foi homenageada no 'Salão Nacional de Poesia Psiu Poético' (Montes Claros/MG).
Em 2019, participou do projeto 'Vitrine Literária' (Sesc de Brasília); dividiu o palco com o poeta e agitador cultural Aroldo Pereira, no recital 'Aos Vivos' (São Paulo/SP).
É membra da Associação Nacional de Escritores (DF) e da União Brasileira de Escritores (RJ).
Produz as lives “A Fim de Poesia”, no Instagram: @noeliaribeiropoeta.
Livros publicados: Expectativa (edição da autora/1982); Atarantada (Verbis/2009); Escalafobética (Vidráguas/2015); Espevitada (Penalux/2017); e Assim não vale (Arribaçã/2022).
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