A POESIA INSTIGANTE DE VIRGINIA FINZETTO | Projeto 8M
8M (*)
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
dê-se por satisfeito
se te enterrarem uma flecha no peito
que penetra fundo e dói
não por acaso em tudo há dois gumes
enquanto um cura, o outro destrói
e para quem não aguenta o intento
vem o suicídio, súbito ou lento
Deu você e eu
e essa demora
o meu agora
não casou
com o seu
súbito colapso
antes do passo, o lapso
e de pronto, entre mim e tu,
o laço,
a aliança,
única presença
na distraída ausência
vim de testemunha das coisas
que não se foram em vão
bendizer o céu de estrelas
e o sussurrar da tua voz
a me chamar pelo nome
abraçar dinossauros em pensamento
beijar o firmamento
tatuar um cometa no céu da boca
ofertar vagalumes à menina dos olhos
sorrir meia lua ao sopro leve do coração
NOVISFORA
na tabuada
do desamor
indiferença
subtrai
multiplicador
sinal de menos
vezes
tanto faz
final das contas
divisor é resto
quociente
que não
soma mais
(* poema publicado no blog Ex-estranhos)
-*-
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)
Sinta na pele, nas veias e na alma, a palavra sempre instigante - em prosa ou poesia - de VIRGINIA FINZETTO:
DESTERRO
dê-se por satisfeito
se te enterrarem uma flecha no peito
que penetra fundo e dói
não por acaso em tudo há dois gumes
enquanto um cura, o outro destrói
e para quem não aguenta o intento
vem o suicídio, súbito ou lento
a perseguir a hipotética paz dos cemitérios
nunca se provou, nem mesmo a ciência
nunca se provou, nem mesmo a ciência
que no profundo sono da morte
cada ser [ateu, crente ou cético] leva escondido
um quê de profético e originário
que une a humanidade
em um estúpido e último desejo imaginário:
querer perpetuar a mesma incerteza de sentir em tudo
esses dois lados que rejeita
[e pelos quais se sofre uma vida inteira]
e parte-se com a lembrança de voltar a ver o sol raiar
[mesmo que quadrado]
no dia do juízo final
[que não há no calendário]
(* poema publicado na antologia Conexões Atlânticas, p. 116)
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-*-
CHISPA!
ilusão enjoada
esse sobe e desce
inferno e céu
do movimento que oscila
sem sair do lugar
aprecio mais o desembestar
de um unicórnio sem destino
do que o do carrossel a girar
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 48)
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-*-
SEPARADOS
nossas almas
encontram formas
maneiras
de se atracarem
pelas beiras
nas madrugadas
calmas
alheias aos corpos
inertes na cama
cochicham
amores
bobagens
e se amam
sem modos
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 194)
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CAIDINHA
me diz, pétala...
como preencher
o boletim de ocorrência:
caíste em novo
falling in love
ou foi só reincidência?
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 255)
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-*-
ESPETACULAR
não é só sexo
é gênero
teatral
ela, comédia
ele, musical
um completa o outro
do primeiro ato
ao final
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 291)
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-*-
ARROUBO
poeta, de alma, é cirurgião
a extrair um juízo,
uma lágrima, um sorriso,
uma dúvida, uma pista,
qualquer tesão,
arroubo de paixão.
Todo poeta é ladrão.
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 306)
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-*-
ORAÇÃO DOS PERDIDOS
Senhor, eu juro
salvar a carne
salvar o tempero
salvar o rango
de ser queimado
pelo fogo alto
e a distração
de toda a tentação
do facebook
até a hora do
molho pronto
amém
(* poema publicado na Agenda da Tribo 2019/2020, p. 314)
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DES[A]TINO
Deu você e eu
e essa demora
o meu agora
não casou
com o seu
(* poema publicado em sua TL)
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O OCO DO VÃO
súbito colapso
antes do passo, o lapso
e de pronto, entre mim e tu,
o laço,
a aliança,
única presença
na distraída ausência
(* poema publicado em sua TL, 13.11.2020)
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GALÁCTICO
vim de testemunha das coisas
que não se foram em vão
bendizer o céu de estrelas
e o sussurrar da tua voz
a me chamar pelo nome
abraçar dinossauros em pensamento
beijar o firmamento
tatuar um cometa no céu da boca
ofertar vagalumes à menina dos olhos
sorrir meia lua ao sopro leve do coração
(* poema publicado em sua TL)
-*-
-*-
NOVISFORA
na tabuada
do desamor
indiferença
subtrai
multiplicador
sinal de menos
vezes
tanto faz
final das contas
divisor é resto
quociente
que não
soma mais
(* poema publicado no blog Ex-estranhos)
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EPÍLOGO
terminar a leitura de um livro, que a arrebatou perdidamente, é como aterrissar, após um período atemporal, fora do seu mundo, e se arrepender de ter voltado antes mesmo de sair do aeroporto.
(* texto publicado na Agenda da Tribo 2020/2021, p. 25)
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SOU DE MIM
Nas horas em que não estou de acordo comigo, eu viro minha cara para um lado e o outro lado vira a cara pra mim. Nas horas de descompasso, não há música, não há dança, só um atropelo de pensamentos tolos, tipo assim... Nas horas em que eu não sou quem sou, meio ausente, meio minha, meio de ninguém, é que eu me encontro, enfim.
(* texto publicado na Agenda da Tribo 2020/2021, p. 45)
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-*-
SE EU FOSSE VOCÊ
Ah, se eu fosse você, agora eu ficaria em silêncio, atrás da cortina do palco, esperando a turma que vai chegar. Espiaria pelo buraco do esgarçado o desenrolar das cenas. Combinaria truques, jogos, nós de laços. Afagaria pelos, crinas, penachos. Trocaria receitas, poções, abraços... Ah, se eu fosse você, agora eu desperdiçaria mais risos e menos estilhaços, e ficaria repassando o refrão do coro, aguardando a hora de entrar e gritar: merda!
(* texto publicado na Agenda da Tribo 2020/2021, p. 340)
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(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.
fotografia do arquivo pessoal da autora
VIRGINIA FINZETTO é natural de São Paulo/SP, onde reside. Graduada em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero, e em História e Letras pela Universidade de São Paulo. É jornalista, editora e escritora. Seus textos estão publicados em diversas páginas de poesia e literatura na internet e nas redes sociais; também participou de diversas edições da agenda 'Livro da Tribo'; da 'Revista Plural' (Editora Scenarium Plural); da Revista Literária 'O Casulo' (Editora Patuá); da Revista 'Coletivo' (Editora Scenarium Plural); da Revista Literária 'Germina'; e da 'Folhinha Poética'. Teve poema classificado e publicado na coletânea do 16° Concurso de Poesias da Universidade Federal de São João Del-Rei/MG, em 2016.
Participação em antologias: Coletâneas de Prosa do 'Mulherio das Letras' (edições de 2017 e 2018); 'Casa do Desejo' (Patuá/2018); 'Conexões Atlânticas' (In-Finita/2018, Lisboa-PT); entre outras.
Em 2017 publicou seu livro de poesia Vi e/ou vi que o vento é aqui, pela Editora Scenarium Plural.
Muito obrigada pelo carinho, Nic e Chris. <3
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