A INCRÍVEL POESIA DE BHUVI LIBANIO | PROJETO 8M
fotografia do arquivo pessoal da autora
8M (*)
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
"Dias mulheres virão",
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)
Mergulhe nos incríveis poemas de BHUVI LIBANIO, extraídos do seu mais recente LIVRO DE INUTILIDADES AMOROSAS:
NÃO SOU CHEGADA EM DITIRAMBOS
Não sou chegada a ditirambos.
O exagero é falta,
e palavras vazias são ferramentas diabólicas.
Bajulação me faz lembrar abajur,
que me remete à escuridão -
neste caso, espaço desabitado
onde pairam almas penadas.
Que pena!
Somente ao se perder
uma pessoa consegue se encontrar,
mas o desejo de se buscar
é condição sine qua non.
Não adianta querer puxar
a própria peruca,
como fez o barão.
Para onde vão os sobreviventes da areia movediça?
Figuram em florilégios?
Você, jardineiro de mim,
deixa-me crescer selvagem -
sem poda, perfumada,
sem espinhos, delicada.
Enquanto cresço,
você cresce em mim.
(p. 21)
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-*-
MEDO
Medo, navalha da ignorância,
que atravessa coração e alma e
do Amor faz lamento.
Medo, imatura e tola
tentativa de precisar
o não exato.
Por que conservar
ideias obsoletas?
O que se espera das asas
é voo.
(p. 32)
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-*-
TALVEZ
Talvez minha voz
ressoe
em seu silêncio nu(a).
Talvez minha história
encontre
palavras na sua.
Talvez palavras
sejam apenas pré-textos -- pré-história?
para nós.
E agora?
Que esta seja aquela tal
vez
em que transformamos -
a vida:
poesia
em nossa dança.
(p. 47)
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-*-
TO BE, OR NOT TO BE
"O fenômeno
não passa de um
processo normal de crescimento."
Certa manhã,
milhares de cascas foram encontradas
nas árvores da cidade.
O esqueleto é externo ao corpo,
precisa ser descartado.
("Ser ou não ser, eis a questão.")
Será mais nobre sustentar
a pele espessa
do que não ser mais?
Crianças brincam com roupas -
penduradas, largadas, trocadas,
são nada mais que invólucros.
Não se importam,
desconstroem fachadas
e correm nuas, livres e risonhas.
Mais nobre é Ser
sem espessuras,
suavidade sem temor.
Atacar
com a própria carcaça
é intimidação.
Deixar distante
aparências impertencentes
é aproximação.
Pendurar o traje
baixar a guarda
é erguer-se em Amor.
Certa manhã,
a verdade revelou-se.
Mais nobre é deixá-la nua.
(pp. 67-68)
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-*-
declarações
nem sempre são feitas
por meio de palavras
discurso
não precisa
de língua
(p. 72)
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imper
manente
meável
feito
(p. 74)
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(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.
fotografia do arquivo pessoal da autora
BHUVI LIBANIO é natural de Belo Horizonte, MG, e atualmente vive em Imbituba, SC. Graduada em Letras - Português e Literatura, pela UFMG; possui mestrado em Literatura (Estudos Latino-Americanos) e especialização em Estudos de Mulheres e de Gênero, pela Ohio University, EUA. Também tem formação em Direitos Humanos, pela UEMG.
É escritora, tradutora e intérprete de inglês e espanhol, em colaboração com editoras brasileiras e autores independentes.
Escreve crônicas para revistas eletrônicas, contos para antologias, roteiros, cartas, legendas para filmes, entre outros.
Livros publicados: Para ler com fluência: jogos, atividades e desafios (com Juliana Castro, coleção de livros didáticos para o Instituto Alfa e Beto, 4 volumes, 2009); The autonomous sex (LAP LAMBERT Academic Publishing AG & Co, 2010); Linguagem, discurso, escrita feminina - pasos bajo el agua (artigo integrante da "Coletânea Alicia Kozameh: Ética, estética, y las acrobacias de la palabra escrita", org. Erna Pfeiffer, Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana de Pittsburg); A história de Carmen Rodrigues (romance, Editora Ser Mais, 2014); 17 (Quintal Edições, 2018); Existe amor em samsara? e Quem vai chorar por elas?, em O teatro em um ato (org. Moisés Guimarães, 2019); O segredo da carne (romance, e-book, Amazon, 2022); Livro de inutilidades amorosas (poesia, Editora M.inimalismos, 2024); entre outros.
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