Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Aquarela

Coletivo Contemporâneos

Imagem
  |  Caderno de Arte 03  | Coletivo Contemporâneos por Lu Valença HABITAMOS E TIVEMOS INÍCIO NO MESMO TEMPO .      Qual foi a primeira manifestação criativa da espécie humana? A arte. Foi empregando a arte que nossos ancestrais puderam expressar e realizar suas ideias, artísticas e linguísticas. Com a primeira manifestação artística, superou-se a falta de educação e recursos, abrindo-se, com a transmissão das ideias por meio de imagens, o caminho para a comunicação e a propagação das ideias. Desta forma, os pensamentos se tornaram visíveis e imediatamente reconhecíveis até mesmo para os iletrados. Essa prática, nos permite afirmar que o homem atual igualmente valoriza símbolos e sinais e reconhece a arte como forma de expressão e entendimento capaz de transpor barreiras como as diferenças culturais, de linguagem e de nível de instrução. O  CONTEMPORÂNEOS foi criado para manter essa tradição acesa, disseminando a importância visceral que a arte tem, em suas variadas formas, de servir co

Quatro Vezes Amor - quatro poetas- quatro poemas

Imagem
Aquarela de Luciane Valença Antes que termine o dia... Chris Herrmann, Kátia Borges, Lia Sena, Mara Magaña *** O amor aparece nos momentos mais distraídos. Uma porta se abre. Os pesos se vão.  As levezas entram por ele. (Chris Herrmann) *** certeiro o amor é bicho desembestado mesmo quando sangra e manca não perde o passo não erra o galope o amor não deita na rede pega avião a jato. não mede esforços não vê empecilho o amor não é de papo não é de prosa é de poesia o amor é de fato a cada dia, o que importa o amor não fica à beira da porta não faz arrodeio, não mede distância o amor adentra e faz bem feito cresce no peito e pulsa na veia é de parelha: corpo e sensação o amor é mais que pão é mesa farta, banquete. se esparrama pela casa inteira brinca no tapete da sala acende a lareira molha as plantas no quintal o amor nunca é meia boca é boca cheia de arrebatamento é o melhor intento e a maior satisfação é explosão

Um Conto forte e terno - por Henriette Effenberger

Imagem
Aquarela - Luciane Valença “Rola-me na cabeça o cérebro oco. Porventura, meu Deus, estarei louco ?”.   Augusto dos Anjos Louquinha - Lelé por Henriette Effenberger Diagnóstico fácil: Psicose por drogas. Camisa de força química para substituir a tradicional; a ambulância deslizando pelas avenidas; os portões abrindo-se após a identificação, o quarto frio, as grades, o abandono... Abandono tão seu conhecido que já nem se importava com ele. Era íntima também da solidão, do desprezo, da indiferença. Conhecia-os desde que nascera: do barraco onde viveu com a mãe embriagada, das ruas onde se abrigou das surras que levava em casa e dos orfanatos e instituições para menores carentes e infratores, os quais frequentou com assiduidade e rebeldia. Refugiava-se daqueles sentimentos na cola, esmaltes e solventes. Mais velha, descobriu o álcool e o crack. Ao mesmo tempo iniciou-se nos pequenos furtos e na prostituição, onde também aprendeu a defender-se com estiletes

De vez em quando um conto - Lia Sena

Imagem
Astuta por Lia Sena Os óculos eram inseparáveis durante o dia; pareciam uma espécie de máscara que a distanciava da mulher que só ela conhecia e blindavam-na diante do mundo. Invariavelmente ia ao banco e pegava fila, torcendo pra ser atendida por ele. Aqueles olhos negros e sérios atrás do balcão a impressionavam de tal forma, que suas pernas tremi am na espera, muitas vezes frustrada, pois outro caixa a atendia. Lançava um último olhar perdido, por trás dos óculos, ao rapaz compenetrado e sério; partia. Num dia melhor, atendida por ele, deixou escapar, junto às contas a serem pagas, um papelzinho com número de celular/whatsapp, na esperança de que ele a adicionasse e entendesse o tímido recado. A roupa não ajudava muito; estava sempre de camisa, fechada por botões, calça social e aqueles óculos sérios. Saltos, nunca durante o dia... Sua esperança foi pro lixo, junto com o papelzinho atirado por ele à lixeira. Enfim, era sexta feira, era lua cheia e o momento de tirar a out

Um Conto inédito de Sandra Godinho

Imagem
Aquarela por Luciane Valença Três Quartos de Um Amor ‘O primeiro me chegou como quem vem do florista’ [ 1 ] , mãos de afeto desenhando no meu corpo um mapa de desejos inconfessáveis, escalando montes, escavando vales em febre e furor até devassar meus pudores. Foi o desfolhar das camadas que me surpreendeu. O afago fingido na roda com os amigos, o beijo belicoso para selar uma discussão inoportuna, a carícia carente, roubada no meio da noite, imposta como penitência mal cumprida. O calor mal desabrochado na madrugada morria ao alvorecer, no gozo frio adormecido no leito. ‘O segundo me chegou como quem chega do bar’ [ 1] , a boca trazia o destemor, poesias embaladas no vinho, marinadas com a sede do mundo, engolindo sua fome de possessão com suor e saliva enquanto sua seiva me alimentava de desejo. Foi o primeiro tapa que me surpreendeu. Eu, ainda embaçada com a promessa descumprida de que o acontecido nunca tornaria a acontecer. Depois do tapa, o soco, cedendo a um ab

Um Conto bem-humorado e surpreendente - por Sonia Nabarrete

Imagem
Aquarela de Luciane Valença Entre corpos Havia cheiro de sexo no ar. Eles já tinham se beijado longamente e explorado com línguas e dedos o corpo um do outro, quando eu, que a tudo assistia, fui convidada a participar. Cheguei no melhor da festa. Ela já estava devidamente lubrificada e ele exibia sua potência, sem disfarçar um certo orgulho. Naquela noite quente de verão, numa ampla cama redonda de motel, cenário para cultos hedonistas, eu estava entre um homem e uma mulher, sintonizados em um tesão que se traduzia em movimentos instintivos, num ritmo crescente. Feito o recheio de um sanduíche, sentia as manobras e recebia fluídos de ambos. Recebi o calor e a energia daqueles corpos que se fundiam numa coreografia perfeita, cada um buscando o próprio prazer. O orgasmo foi simultâneo e intenso.   Depois, quando a paixão deu lugar à ternura, fui excluída do contexto.   Com a mesma sutileza com que fui chamada, me dispensaram. E em seguida, atirada ao lixo, que é lu

Um Conto Incrível de Virgínia Finzetto

Imagem
Aquarela de Luciane Valença AS ESCAMAS DO MEU PEIXES BRILHAM NO MANTO DA SUA VIRGEM I - O SONHO [fique atenta à primeira mensagem de hoje e o que deseja será seu] Antes que a lembrança se apagasse, Amine pegou a caneta e anotou no bloquinho, que costumava deixar sobre o criado-mudo, a frase do estranho sonho. O celular marcava 4 horas da manhã. Levantou, foi até a cozinha, pegou um copo de água e voltou para o quarto. Leu de novo o que acabara de escrever.   “No mínimo, meus neurônios cruzaram minhas recentes leituras sobre esoterismo, astrologia e ufos e chacoalharam tudo...”, pensou desconfiada se aquilo poderia ser mesmo um recado.     Essa mania adquirida de que podemos dar conta de nossas vidas até vir uma lua cheia e nos derrubar da cama com imprevistos de tirar o sono, a falsa sensação da ocorrência de eventos lineares, as certezas que se suicidam a cada segundo, o sossego que não dura... Vida, tempo, relógio, inseto, uma cartilha de palavras de A a Z co