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Mostrando postagens com o rótulo Catita

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Demandas - Catita

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  Coluna 4 Demandas             Tina, acordei hoje, seu 13 de maio, com um ponto na cabeça: “Ogum, vencedor de demanda, ele vem de Aruanda pra salvar filhos de Umbanda Ogum, Ogum Iara, Ogum, Ogum Iara, salve os campos de batalha, salve a sereia do mar, Ogum, Ogum Iara”   O ponto na cabeça, sua voz nos meus ouvidos, sua imagem nos meus olhos internos: a senhora cantava esse ponto, essa parte, muitas vezes quando estava na cozinha ou no quintal. Às vezes eu cantava junto, outras ficava só observando.  Muito mais tarde fui entender que o canto ocorria sempre que um problema nos rondava e você estava matutando como resolvê-lo.   Em nenhuma fase de minha vida, por mais difícil que fosse – perdi a conta de quantas foram e são – nunca imaginei uma situação como a que vivemos atualmente. “Pandemia” para mim e boa parte do mundo era palavra de dicionário apenas. Eu me pego pensando em como a senhora agiria, Tina? Certamente ficaria apreensiva com as restrições ao entra e sai das crianças, m

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Apneia - Catita

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  Coluna 03 Apneia Há muitos anos, fiz uma Oficina de Crônicas com Antônio Prata. Estávamos empolgadas com a oportunidade em um evento de um outro colégio, eu e uma colega de trabalho que se tornou grande amiga, dessas de verdade, que discordam, são parceiras, se afastam, se respeitam e se amam. É curioso voltar a ser aluna, mesmo que por algumas horas: a gente incorpora o personagem e apimenta com o olhar crítico, quase ácido da profissão. Tudo corria desafiadoramente bem, até que no momento de comentar os exercícios propostos, afinal era realmente uma oficina, Antônio me disse que eu escrevia bem, no entanto tinha material para umas vinte crônicas em um só parágrafo! Nem dava para respirar! Eu quero muito melhorar isso, Antônio. Mas continuo falhando.  “Ponha o foco em um”. Um ano do primeiro caso de Covid19 registrado no Brasil, 26 de fevereiro de 2021. Tanto já foi dito, desdito e revisto sobre essa doença, o coronavírus e a pandemia que, como diz o nome, tomou conta do globo te

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Planos - Catita

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  Coluna 02 Planos Todo santo ou diabólico ano os seres pensantes e angustiados na vida fazem tudo sempre igual: promessas no fim do ciclo e planos no início do vindouro. E mesmo que se queira agir de forma diferentona: “esse ano não vou fazer nenhuma promessa, nenhum plano, vou deixar a vida me levar”, você acaba fazendo tudo igual e os projetos pegam seu ser todinho. Admiro igualmente quem se empenha nos planos e quem se nega a eles, tendo sucesso ou fracasso. Não é incoerência minha. É aceitação do humano, já que não podemos ser como meus gatos, esses sim, fazem tudo sempre sempre igual - do sucesso em dormir quase o dia todo não importa a superfície ao fracasso em capturar os inocentes insetos voadores. A humanidade é muito grande e diversa, portanto qualquer generalização é leviana. Então, sendo leviana, posso afirmar que todos os desejos, por mais diferentes que sejam, englobam três aspectos: o material, o físico e o emocional.  O material básico é emprego, carro, casa e dinhei

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Na moda - Catita

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  Coluna 01 Na moda Brasil. Férias escolares de janeiro de 2021. Mesmo que seja uma pessoa planejada ou que tenha dinheiro para viajar, caso haja sinais vitais na consciência, você está devidamente em casa, ainda em quarentena, pois a pandemia do coronavírus, que dominou o mundo em 2020, ainda não acabou. E das mil opções de atividades para relaxar, você de repente escolhe assistir a um desses programas televisivos de entretenimento que nunca vê, pois você trabalha nas manhãs. E um dos temas do programa é racismo, “muito em voga em 2020”.  As convidadas para a conversa são negras, a apresentadora, claramente, não, como é de costume. As convidadas são precisas na denúncia do racismo, na valorização da negritude, na convocação da branquitude, afinal, se a questão negra “é lugar de fala delas”, o combate ao racismo é “luta de todos”. Seria interessante discutir isso que para alguns soa paradoxal: não sendo negro não posso falar sobre racismo, mas como então lutar contra ele? Seria impor

Cinco poemas de Catita | "Minha árvore é baobá rainha da savana"

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  FSM-Team. Fonte: pixabay.com Cinco poemas de Catita "Minha árvore é baobá rainha da savana" Monstro imaginário                           Meu monstro não é sem cabeça, de uma perna só, carrega um saco, mora no escuro ou parece o Boitatá. Meu monstro não vem da África, Ásia ou Oceania, muito menos dos castelos europeus.   Meu monstro não é um boi, nem tem a cara preta, não pega como a Cuca, não mora embaixo de minha cama. Meu monstro não me atormenta na lua cheia ou na sexta-feira treze, muito menos me espreita nos bosques hollywoodianos.   Meu monstro não está na rua deserta, na arma do bandido, no ponto de drogas ou após a faixa amarela do metrô. Meu monstro não é a infecção, o câncer, a cegueira ou a amputação.   Meu monstro, calma e solenemente, sem alarde, embora espere resposta, apenas diz: “ Você não vai conseguir ”.   Hoje   Hoje é um bom dia Para estar viva   Para perceber que estou viva Para agradecer por estar