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Divina Leitura | Poesia para ressignificar o caos: "'Eu' Pandêmica" de Maria Cleunice Fantinati da Silva

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  Coluna 19 Poesia para ressignificar o caos:  "'Eu' Pandêmica" de Maria Cleunice Fantinati da Silva - Por Divanize Carbonieri A pandemia de coronavírus impôs o isolamento sobre grande parte da população, principalmente sobre uma parcela mais privilegiada que pode ficar em casa e trabalhar em home office . E mesmo os que são obrigados a se locomover estão experimentando algum tipo de restrição em seus deslocamentos. Muitos escritores encontram-se nessas circunstâncias, constantemente fechados em suas residências. Alguns sofrem bloqueios criativos causados pelo clima de insegurança e medo que paira sobre todos. Mas, para outros, a literatura se converte em válvula de escape e, essencialmente, numa maneira de ressignificar as agruras da situação. Esse é o caso de Maria Cleunice Fantinati da Silva em “Eu” Pandêmica . Como o título torna explícito, esse é um livro de um “eu” que busca dar vazão aos diferentes estados de alma provocados pela ameaça pandêmica. O interno e

Divina Leitura | Luz própria e ramas floridas em "Toda-Mulher-Vaga-Lume"

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  Coluna 18 Luz própria e ramas floridas em Toda-Mulher-Vaga-Lume Toda-Mulher-Vaga-Lume reúne poemas, micronarrativas e desenhos produzidos pelas autoras que integram o Coletivo As Contistas. É um título intrigante, composto por uma espécie de neologismo, uma palavra formada da aglutinação de várias outras. Qual a relação entre escritoras e vaga-lumes? A nota introdutória se refere a esses insetos como seres capazes de emitir luz própria, sendo que o “tecido que emite a luz é ligado na traqueia e no cérebro”. A localização da bioluminescência nesses órgãos do animal parece servir de analogia para a expressão verbal das poetas, que combinam sons/significantes e conceitos/significados na realização do fenômeno literário. Contudo, a palavra que inicia o nome criado surge talvez para alargar ainda mais a prerrogativa da criação da luz própria: abrangeria ela a condição de toda mulher que existe e resiste em um mundo que ainda insiste em submetê-la. Ter direito ao autocontrole, à autodet

Divina Leitura | Temporada de infantojuvenis em Mato Grosso

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  Coluna 17 Temporada de infantojuvenis em Mato Grosso Nos meses pandêmicos, entre 2020 e 2021, a literatura produzida em Mato Grosso, em franca efervescência, viu também um florescimento de infantojuvenis. Neste post, apresentamos oito dessas obras. 1) Elvis e Lola: um mundo coelhado - Texto e ilustrações de Neide Silva (Editora TantaTinta). Sinopse: Elvis e Lola são um coelho e uma coelha muito diferentes um do outro, mas, mesmo assim, constroem uma linda história. Conhecer novos gostos, hábitos e situações pode ser muito interessante. Temas: diferenças culturais, aprendizado, respeito e tolerância pelo diferente. Link para a compra:  https://www.tantatinta.com.br/livro/elvis-e-lola 2) TROA - Texto de Alicce Oliveira e ilustrações de João Paulo de Oliveira Carmo (Umanos Editora). Sinopse: Onde está sua força interior? Troa te convida para uma jornada entre céus, terras, mares e montanhas. Com coragem e sabedoria, a jovem Troa descobre que o maior bem habita dentro de si. E que é n

Divina Leitura | O tutano da experiência viva em "Jardim de ossos" de Marli Walker

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  Coluna 16 O tutano da experiência viva em  Jardim de ossos de Marli Walker - Por Divanize Carbonieri Jardim de ossos de Marli Walker explora, como o título indica, a profusão de ossadas que vão se produzindo na vida de uma pessoa ao longo do tempo. O principal campo semântico a ser trabalhado é o do osso enquanto estrutura que se forma em torno da subjetividade conforme se acumulam as experiências vividas: “é como tatear um recife de corais/(exoesqueleto calcário)/sob o sal das águas do meu tempo”. Todos os seres humanos que alcançaram algumas décadas de existência forçosamente apresentam certa couraça de proteção construída pelo acúmulo de desilusões e perdas. A fossilização dos afetos, pelo menos em certa medida, é necessária à sobrevivência e também inevitável. A própria linhagem parece ser vista como uma espécie de andaime em que aquela que está viva se reconhece como alguém que está no nível mais alto (ou talvez mais próximo à superfície) apoiado nos ombros daquelas que lhe

Divina Leitura | A palavra vencendo a clausura: uma leitura de "Cicuta e cilício" de Jeanne Araújo

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  Coluna 15 A palavra vencendo a clausura: uma leitura de Cicuta e cilício de Jeanne Araújo - por Divanize Carbonieri Cicuta e cilício  (Penalux, 2021) de Jeanne Araújo é um contínuo monólogo amoroso, monólogo que se queria diálogo, mas que, sem encontrar as respostas desejadas, retorna ciclicamente para sua emissora. A voz poética que ecoa nesses poemas ressoa a de Mariana Alcoforado, freira a quem são atribuídas as Cartas portuguesas , publicadas inicialmente em 1669. Nessas cartas, um eu feminino se dirige ao amado distante, ora com esperanças de voltar a vê-lo, ora convencido da irreversibilidade do abandono. O livro de Araújo apresenta a mesma dualidade. O êxtase amoroso se confunde com o desamparo, dois sentimentos que causam uma sensação constante de delírio ou frenesi na subjetividade que ali se expressa. A continuidade já mencionada se refere à presença constante da mesma voz, que, de poema em poema, expõe seu drama interno ao mesmo tempo em que tenta uma interação com o ob