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Mostrando postagens com o rótulo Jeane Tertuliano

Prosa Poética | Sinônimo de Resistência, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 13| Eu escrevo como quem ama: mergulho de corpo e alma nas entranhas da poesia. O amor diz muito sobre o ofício de uma poeta, pois não é por dinheiro que produzo a minha arte, mas sim pelo que sinto quando versejo com o coração. Beirando o meu sexto livro, escrevo com mais afinco. A vida parece enfim ter sentido, e isso significa tudo para mim. Ser mulher é um ato de coragem. Ser uma mulher que produz literatura às vistas de uma iminente ditadura, é uma proeza que por si só faz implodir a medonha estrutura da sociedade machista, golpista e tirana. Eu sei que divago demais, mas ser poeta é isso mesmo: é traduzir tudo que me fere a alma o tempo inteiro. Não sei viver se o sentido preestabelecido for ser feliz num padrão contido pelos vãos que ecoam nos lares do mundo infindo. Mulheres não se calam quando têm razão e sonhos. Os opressores podem até espernear, mas se a própria ciência aponta que somos a maioria, não há sentido algum em negar a soberania da nossa existência. Escreve

Poema | A(mar), por Jeane Tertuliano

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|Coluna 12| Não posso diferir daquilo que sou: poesia desabrocha tal qual uma flor quando o assunto em questão é o Amor. Nada sei, mas imagino; sendo assim, concebo o infinito. Embalada pelo tracejo (in)verso que alimenta a ânsia tamanha pelo desvelo conjugo o verbo a(mar) junto à melodia soprada pelo vaivém das ondas, o inebriante cantarolar. Torno a dizer: nada sei, mas posso imaginar.

Poema | Ruína, por Jeane Tertuliano

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  |Coluna 11| Há cadáveres por onde caminho. Mortes contínuas de mim mesma inibem a cicatrização da ferida que,  erroneamente, julguei estar contida. Meu corpo lívido, em penúria, verte; a poesia nas rimas do meu caminhar já não acalenta o meu desaguar. Me ponho a escrever porque há muito vislumbro o meu próprio ser, padecer. Cruel inconformidade que me fez ver verdade nas quimeras do viver!

Poema | Nunca Mais, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 10| Entre quatro paredes, a solidão perene ecoa e o vazio destoa a voz que, chorosa, sufoca l e n t a m e n t e. Toda a gente padece um pouco maia a cada manhã dorida de verdades fingidas. Nada mais tem valor no vão ostensivo que reluz incolor. Empatia é sonora nos lábios sem amor de homens e mulheres. Eu sempre me questiono: o que eles pretendem falando do que não sentem? Mentiras há muito contadas desfilam encorpadas nas ruas, nos lares e nos corações frios. Apenas eu divago adoidado sobre os nossos temidos vazios?! Ignorar a escuridão à janela não apagará as sequelas. Nada mais será como antes! Deitada em minha gélida cama escuto o crocitar da ave medonha que sobrevoa o alto do meu ser...  "nunca mais" — eu a ouço dizer.

Poema | Fremente, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 09| Palavras são vertidas silenciosamente dos lábios escarlates que denotam perversão aos pútridos olhos dos cidadãos de bem que, imersos na maldade,  provêm egoicos rebentos do reflexo peçonhento da grandiosa pequenez. A densidade corpórea do sexo oprimido é fremente. Anseia por ser lida e compreendida nas entrelinhas das rimas que ecoam ritmadamente ao som da mudez dorida infligida a tantas Marias. Já não podemos ser belas, recatadas e do lar...

Conto | Sexta-feira 13, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 08| Uma garota não deveria nutrir tanto apreço pelo obscuro, afinal, o que se esperava de uma miúda gentil, era justamente o oposto. Lindsay falava pouco, mas observava tudo. Pequenina feito um botão de rosa, era vista frequentemente chorosa por sentir as dores do mundo que apenas ela parecia ser capaz de compreender. Quem diria que aquela criatura submersa em timidez cresceria e aprenderia a falar a língua incongruente do mal? Há quem ouse afirmar que Lind foi beijada pelo anjo da morte após perder seus pais num terrível acidente de carro. Até dizem que a sua pele adquiriu uma lividez mórbida depois do ocorrido. Apaixonada pelos clássicos do terror, a jovem colecionava livros de teor hediondo. Ninguém em sã consciência leria aquelas narrativas malditas. Lindsay, era uma moça peculiar e a estranheza que revestia os seus gestos na infância parecia determinada a permanecer intrincada à sua essência. Isolada num casebre apartado da vizinhança, não demorou muito para que a perversi

Conto | A Ira de Amon, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 07| Chuva incessante banha a noite porta afora. Algumas pingueiras se fazem ouvir no cômodo ao lado, e eu tento bloquear o som incômodo pondo o grande travesseiro da minha finada mãe nos ouvidos. Amon ladra lá fora. Certamente, deseja se amparar, mas eu estou preguiçosa demais para pô-lo dentro de casa. São Miguel dos Campos nunca fora um lugar divertido, isso é indubitável; porém, há alguns dias que as ruas estão desertas, sequer ouço o choro irritante do bebê na casa vizinha. De acordo com o calendário, injetei cocaína anteontem. Eu havia bebido o restante do whisky e permanecido numa sobriedade ensandecedora, por isso decidi pôr um fim no pó que escondi no meu porta-joias. O meu irmão viajou com a namorada e me deixou sozinha nessa casa velha e imunda. Amon continua ladrando, parece estar enfurecido e desesperado ao mesmo tempo. Pergunto-me se é certo ignorar as súplicas do pobre animal, e concluo que não sou obrigada a responder agora. Após alguns minutos de total concentra

Conto | Reminiscência, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 06| EU VAGUEIO SEM SAIR DO LUGAR enquanto observo uma garota a brincar com o seu gato negro. Do alto do meu ser, eu avisto uma criança a correr, sorrindo bobamente... fecho os olhos e tento fazer com que essa sensação nostálgica evapore, pois nada é real no que vejo. Um ser pueril não pode se divertir de tal maneira estando emocionalmente em frangalhos. Deixando as janelas entreabertas, caminho até a minha cama e sento-me na beirada. Pesco Os Sofrimentos do Jovem Werther na cabeceira e o folheio; lágrimas lavam as minhas bochechas róseas enquanto me demoro no seguinte trecho: "Por que tem de ser assim? Por que o que faz o homem feliz pode tornar-se a fonte de sua dor?" Por quê?! — ouço a minha voz chorosa encher o recinto de melancolia. Passos se fazem ouvir do outro lado da porta e, apesar de o som ser demasiado reconfortante aos meus ouvidos, eu anseio fervorosamente não mais escutá-los. Deposito Goethe no seu devido lugar e rumo à porta, mas um tremor repentino me

Prosa Poética | Parece Mentira, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 05| Parece mentira, mas ainda hoje, nós, mulheres, estamos sujeitas a inúmeras críticas pelo simples fato de sermos quem somos e buscarmos independência. Parece mentira, porém, o batom vermelho estampado nos nossos lábios, o dito cujo que é sinônimo de sensualidade, também é o mesmo que aos olhos da pequenez de determinados indivíduos, nos delimita vulgares. Parece mentira, no entanto, homens são tidos como superiores. Séculos se passaram, a sociedade patriarcal permanece imune às lutas das minhas irmãs. Até lançaram-nas ao fogo por temerem o fulgor em suas veias. Bruxas! — Os infelizes vociferaram ante as chamas da injustiça consumindo as vítimas. Parece mentira, contudo, fomos e somos assujeitadas ao bel-prazer de monstros depravados que têm o intuito de nos aniquilar. E sim, nosso sentir aflorado por vezes é explorado de forma indevida. O amor entre os sexos seria uma utopia? Nada justifica tamanha crueldade para com mulheres que se entregam de verdade àqueles que acreditam

Prosa Poética | O Espelho, por Jeane Tertuliano

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  |Coluna 04| A existência é uma flama. Já concebeu a possibilidade de o agora ser o grand finale da sua vida? Eu aposto que não. A práxis moderna consiste irrevogavelmente em experienciar com gana o regalo do presente em vez de contemplar calma e conscientemente a seriedade intrincada na liquidez da nossa brevidade. O que você enxerga / sente ao demorar-se defronte o espelho, encarando a si mesmo enquanto transborda na pequenez da imagem frivolamente refletida? Para o ser humano, é tipicamente difícil exercer autoanálise, e, até certo ponto, é compreensível. A crueza da realidade tende a ser uma faca de dois gumes àqueles que há muito vêm se negando a lidar com a lógica existencial. Uma vida repleta de quimeras não renderá bons frutos a ninguém. Permitir que a ilusão o faça de joguete é uma das piores coisas que um indivíduo pode cogitar fazer. Feche os olhos e mergulhe sem hesitar na escuridão por detrás das tuas pálpebras, não se acanhe! Adentre o âmago e se achegue à essência, desn

Prosa Poética | Infortúnios Nocivos, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 03| É dia. Dos noticiários televisivos, jorram infortúnios nocivos: mais Marias foram violentadas e / ou estupradas cobardemente. Ainda assim, é dia. Pessoas acordam e vivenciam suas rotinas sem despertar ante o constante oscilar dos monstros que vêm e vão de suas pseudojaulas. As vítimas, quando não são postas em túmulos, seguem existindo sem porquê nem para quê num mundo que insiste em apontá-las como culpadas, crê? Nada novo por aqui nem acolá... Independente das injustiças acometidas àquelas que sofrem desde que nasceram, é dia. O grito que ousou irromper das entranhas doloridas foi fisgado pela violação abrupta de um pai (?), padrasto, tio, vizinho etc. É dia, mas a lei continua a dormir quando o assunto em pauta envolve uma pobre coitada vestindo saia curta, batom "vermelho cheguei" nos lábios e hematomas enfeitando o seu corpo depravado. É dia? Os algozes que deveriam habitar a escuridão da noite andarilham livremente aonde bem entendem. A Maria que ousar delat

Poema | Sequela do Amor, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 02| Sequela do Amor O tempo chicoteia a memória i n c e s s a n t e m e n t e. Entretanto, o sádico ignora um pequeno-grande porém: quando se ama alguém, esquece o esquecimento; resistindo, assim, ao tormento. O romântico é,  primordialmente,  um semideus: mediante a prévia do fracasso,  concebe um desfecho do seu agrado, crendo piamente na sua veracidade. Devaneando no mar do amor genuíno,  fica insone e dá asas ao vil desatino: chora e ri de si mesmo ao naufragar.

Prosa Poética | Impiedosa Realidade, por Jeane Tertuliano

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|Coluna 01| Em meu peito, por vezes, brotam gritos chorosos. As enxurradas de cobranças exteriores tornaram-me deveras exigente comigo mesma e isso transformou o âmago anteriormente florido num vão absurdamente oprimido. Encaro a janela entreaberta e vislumbro os tímidos raios solares adentrarem vagarosamente o recinto e, ébrios de uma repentina ousadia, beijam os meus pés, roubando a lividez costumeira ao deixá-los ruborizados. Eu enxergo a poesia das eras naquilo e deixo-me ser envolvida pela calidez que embebe o meu ser em sapiência. Abruptamente, eu sou acometida por náuseas que me conduzem ao banheiro numa rapidez inumana. Sentindo minhas vísceras se contorcerem, ancoro-me na pia gélida e fito o reflexo no espelho que me encara de volta, afrontoso. Eu preciso desviar o olhar daqueles olhos, mas não, há uma força superior que me mantém imóvel, segurando-me com mãos invisíveis. Os lábios fartos riem para mim, sussurrando: “aproxime-se, por favor, não tema a verdade”. No instante seg