Fernanda de Paula e a poesia de sua janela enluarada
Letícia de Paula Pôr do sol de outono dói mais. Mesmo quando uma imensa alegria me acena por detrás de montanhas azuis, essa saudade gorda faz o que vejo pela janela vestir um brilho úmido de lágrimas. A luz do ocaso é cor sem nome. Ressoa grave, em lilás desmaiado, levemente coberto de uma poeira vagarosa de terra vermelha. A alma acorda sonolenta, os olhos enfumaçados de preguiça e canção. Tudo no entorno é velho – também minha voz. Viver parece coisa antiga. O amor boceja. Letícia de Paula Com a garganta dormente de tudo que não disse quando podia, lavo o peito da saudade. Costumava colher florinhas amarelas no mato. Só, por detrás das encostas da imaginação, observava uma velha plantadora de árvores no meio do deserto. Pensava o que aquela mulher de tez engruvinhada de histórias tanto escondia no chão, as mãos de desenterrar sonhos... Com que leveza d’alma ela regava as