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Para não dizer que não falei dos cravos 12 | UM CONTO DE DIAS CAMPOS

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  Para não dizer que não falei dos cravos (12) Um conto de Dias Campos: "A PAIXÃO DE  LEONARDO"   Eu e Leonardo crescemos no mesmo bairro, na pacata Santa Clara do Cerro Azul, uma cidadezinha achada à lupa, no interior de Minas Gerais. Era uma época boa, em que as crianças brincavam despreocupadas na rua, empinavam pipa sem a maldade do cerol, e chupavam cana recém-descascada. E porque estudássemos na mesma (e única) escola, eu o esperava passar por minha casa para irmos juntos conversando sobre os assuntos mais importantes do dia anterior – geralmente, o estimulante comprimento da saia da nossa bela professorinha. Mas se éramos como irmãos, fosse na aparência, fosse nas estripulias, nossos gostos eram bem diferentes. Enquanto eu adorava uma boa moda de viola, Léo ficava deslumbrado quando, passando em frente à bodega do seu Carlos, conseguia ouvir um rouco solo de piano, que saía do seu rádio caixa de madeira. Eu não conseguia entender como alguém da nossa idade, q

Para não dizer que não falei dos cravos 11 | A poesia de JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

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  Para não dizer que não falei dos cravos (11) A poesia de  JOSÉ INÁCIO  VIEIRA DE MELO  ● Quatro poemas de "Garatujas Selvagens" capa do livro Garatujas selvagens   OFÍCIO   Cunhar abalos sísmicos, eis o meu ofício.  Mergulho no sonho e vou ao mais profundo  em busca do incriado. E como é estranho  o luminoso minério  que surge assim precipitado. Para não me cegar com a ensimesmada joia, que atravessa diamantes numa onda de amálgamas  espelhados, esfrego-a no corpo, cautério que toca na alma  espalhando brasas. E brotam versos vivos, sorrisos suados, lágrimas talhadas. (p. 21) -*- SOLUÇÃO  A solução para tantas palavras é apagar delas o sentido. E partir da intacta inocência  quando ainda tudo era nada. E sentir a poesia despertar o silêncio  até chegar ao outro, inventando nexos. O humano é demasiado e necessita inscrever no corpo do texto a textura do drama. (p. 26) -*- ROTA INFINITA  Minhas palavras estão sem sono e o silêncio grita teu nome, mar que admiro. Com os sentid

Para não dizer que não falei dos cravos 10 | Uma crônica de DIAS CAMPOS

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  Para não dizer que não falei dos cravos (10) Uma crônica de DIAS CAMPOS LARINHA AINDA NÃO FOI PARA O CÉU ​ Há quase cinco anos, meu filho ganhava o seu primeiro bichinho de estimação. Mas esse presente não veio só porque fosse insistente. Decidimos, eu e minha esposa, que ele deveria merecê-lo. Para isto, teria que passar por um longo período de prova, de fevereiro até doze de outubro. Se até o dia das crianças ele tivesse praticado mais atos meritórios do que traquinagens,  nossa família aumentaria de um pet. Imprimimos uma tabela, a prendemos com ímãs na porta da geladeira, e nela ticávamos com tinta azul ou vermelha, conforme fossem as ações positivas ou negativas. ​ Mesmo não esperando que o leitor acredite, foi só no último dia do prazo que o lado azul superou o vermelho! Uma vez cumprida aquela condição, o garoto fez jus ao prêmio. ​S e é verdade que o guri não tinha certeza sobre qual a raça que mais o agradava, se cachorro, gato ou furão, também é exato afirmar que, por m

Para não dizer que não falei dos cravos 09 | A poesia de JOSÉ DANILO RANGEL

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  Para não dizer que não falei dos cravos (09) A poesia de  JOSÉ DANILO RANGEL  O QUE PERDEMOS A capacidade de sonhar? Não perdemos. A capacidade de confiar completamente? Não perdemos. A capacidade de amar numa total entrega? Não perdemos. Ao longo da vida, às vezes, tão dura, Se perdemos algo é a capacidade de ignorar A realidade. imagem do Pinterest -*- AS MOENDAS MAIS BONITAS Organizações podem matar, sabia?  Não que possam com faca, com bala,  com pancada ou veneno. Podem matar com descaso e violência  — pouca, mas sistemática, aplicada  todo dia de trabalho.  Organizações podem matar, não que possam estrangular alguém, mas  estrangulam — não a carne, mas a outra parte viva. Organizações podem matar com os tentáculos pegajosos da sua crueldade e a falta de escrúpulos dos seus cúmplices, Suas metas inalcançáveis, seus  discursos bobos, falsos e desligados  da realidade, suas promessas  mentirosas, Seu zero interesse pela vida  que tá sendo trocada por algum trocado. Organizações