Libertação imperdoável - crônica de Ivy Menon
imagem de autoria de Nestor Villacampa Libertação imperdoável* por Ivy Menon Eu tinha dezesseis anos e ainda morava numa casa miserável perto do buracão de lixo, no fim da rua. O banheiro no meio do bananal. Não sofríamos com as faltas próprias dos que habitavam abaixo da linha da pobreza. “O amor cobre multidão de pecados”, aprendemos no texto sagrado. Meus pais se amavam. E também a nós. No meio da miséria e da consequente invisibilidade, a perversidade se alastrava. Tínhamos muitos vizinhos. Quase todos espancavam suas mulheres. Vivíamos sob o signo do “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. O pai não permitia que sequer conversássemos com os meninos da vizinhança sobre o assunto. Baixávamos os olhos às marcas roxas no rosto das nossas parceiras de fome e dor. Assistíamos, desesperados, a violência sofrida por Dona Arlete e suas oito crianças que moravam do lado. O homem da casa, aquele que mandava em tudo e arrebentava, no cacete, a mulher e os f