A poética de Dagmar Braga
foto - Inês Santos "Geometria da Paixão" como se fosse domingo desabotoei as horas l e n t a m e n t e abri minhas gavetas e deixei suspensa a esperança ilegível recolhi o desejo a memória como se fosse domingo deixei a solidão lançar seus fumos meus destroços e lendas aprontei o turíbulo - a prece pelo avesso – desentranhei-me – o coração vadio o corpo o olho nu como se fosse domingo e um deus dormisse Poemando luz e palavra tecendo o encontro corpo e texto lavrando a noite liberdade uma pitada de sal ternura e fogo Poema delirioso Era uma vez o sol Depois veio a noite A moldura da boniteza da noite E o silêncio ancho – regado a sonho Depois veio a fome E o medo da fome A incerteza E o olhar – comprido de desejo Depois veio a sede E a ranhura do vento Na crueza dos campos alísios Era uma vez o sol